Ao longo dos anos no treino de futebol, mais precisamente no treino de jovens futebolistas, tenho-me deparado com muitos treinadores que falam muito, mas que não dizem nada de interessante. Isto pode suar um pouco mal, mas é a realidade. Vou então tentar explicar o porquê desta observação.
Por feedback, podemos entender que significa realimentar ou dar resposta a um determinado pedido ou acontecimento, ou seja, em outras palavras, feedback é quando alguém realiza alguma coisa e pretende com isso obter uma apreciação, seja ela positiva ou negativa. Nesse sentido, importa refletir sobre os feedbacks que se costumam dar no treino e, sobretudo, no treino de crianças. É aqui que incide a afirmação inicial.
Vamos então a casos práticos. Num treino de Petizes (sub-6 ou sub-7), estou a realizar um exercício em que o principal objetivo é estimular a condução de bola. Nesse mesmo exercício está uma criança que não tem um grande repertório motor e raramente consegue realizar uma condução de bola efetiva, em que não perca o controlo da bola. Observando esta situação, eu, treinador de formação, apenas digo “olha, estás a realizar mal essa condução de bola. Vamos lá melhorar isso”. Neste caso estou a falar muito e não estou a dizer nada, pois a criança saberá que não está a realizar bem a condução, mas porquê é que isso está a acontecer? Como é que ela pode fazer para corrigir isso e aperfeiçoar a condução de bola? Isso sim, será pertinente transmitir à criança.
Para nós treinadores, que já temos algum repertório motor, sabemos que a criança não está a realizar bem a condução de bola porque perde sempre o controlo da mesma, não mantem a mesma sempre junta do pé, não mantem o olhar dirigido para a frente e, daí dizermos “olha, não estás a realizar bem a condução de bola”. Mas a criança que está a prender, não saberá realmente porque é que está a realizar mal a condução de bola. Aliás, para ela, até poderá estar a realizar bem.
Então, posto isto, antes de falarmos muito no treino de futebol, devemos pensar antes em falar bem. No caso prático anterior, para darmos realmente um feedback pertinente, em vez de dizer “olha, estás a realizar mal essa condução de bola. Vamos lá melhorar isso”, deveríamos dizer “olha, estás a afastar muito a bola do pé e assim o adversário vai roubar a bola facilmente. Tens que dar muitos toques pequeninos na bola”, ou “olha, a bola tem que andar sempre juntinha ao teu pé”. Nestes dois últimos casos, estaríamos a dar um feedback pertinente para a criança evoluir e aprender com os erros, corrigindo os mesmo e conseguindo assim evoluir.
Isto aplicar-se-á em tudo na vida, seja ela desportiva ou profissional. Quando nós, por exemplo, vamos repreender uma criança e dizemos “Não faças isso”. Mas não pode fazer isso porquê? Ele/a não sabe, por isso, o facto de se dizer “Não faças isso”, não eliminará por completo o erro. Assim como, por exemplo, no trabalho alguém nos diz “Estás a fazer isso de forma errada”, mas também não diz a forma certa de o fazer, que interesse teve para quem está a realizar a ação de forma errada? Ou como irá esta pessoa substituir esta forma errada de realizar a ação se não lhe disser como o fazer?
Também aliado a isto tudo estará o timing com que vamos dar o feedback. Ou seja, se o atleta realizou mal a ação, mas só passados 2 ou 3 minutos é que eu vou dar o feedback corretivo, este estará desajustado do timing. O fedback deverá ser dado antes, durante ou após a ação, consoante o objetivo que tivermos com o mesmo.
Posto isto, a ideia que pretendo transmitir com este texto será que muitas vezes o mais importante não será falar muito, mas sim falar o necessário e no tempo certo. E falar o necessário será transmitir a informação essencial para que os atletas, neste caso, percebam o que realmente estão a fazer bem ou mal para que possam corrigir e evoluir.
Muito bom