Após a final da Taça de Portugal conversava com um amigo que me dizia ter visto uma criança, de uns 5 ou 6 anos, a chorar copiosamente pela derrota do Sporting nesse jogo. Lembro-me de ter pensado “Que andamos a passar às crianças que as leva a chorar a derrota do seu clube num jogo de futebol?”. De seguida, lembrei-me de um anúncio que passou na TV nacional há uns anos. Neste anúncio, apareciam vários adultos com crianças a seu lado, quais fotocópias, a imitar todos os gestos que os adultos faziam. Estamos a falar de exemplos como fumar, agredir verbal ou fisicamente outra pessoa, etc.

De facto, as crianças absorvem tudo o que dizemos ou sentimos e, sobretudo, o que fazemos. Podemos dizer 100 vezes a uma criança que não pode fazer algo, mas se numa única situação, ela nos vir a fazer isso mesmo, o exemplo vai lá ficar e tudo o que foi dito antes irá quase desaparecer.

É importante que, tanto pais como treinadores, tenham presente a importância do exemplo na formação da criança, quer na vertente desportiva como na vertente pessoal. Quando um pai insulta, a partir da bancada, um treinador ou árbitro, quando um treinador insulta, do banco, um árbitro, é esse o exemplo que está a passar para a criança e, por mais que diga fora do jogo que isso não se deve fazer, é isso que vai ficar registado na criança… o que fizemos, não o que dissemos.

Claro que podemos alegar que os exemplos, neste campo, aparecem também de outros lados e, no futebol profissional, aquele que tem mais visibilidade e impacto, abundam exemplos negativos. Estamos a falar de comportamentos incorrectos e da não penalização desses mesmos comportamentos. A Comunicação Social também tem a sua responsabilidade, devido à quantidade de programas que falam de tudo menos do jogo. No entanto, a responsabilidade maior é, sem dúvida para mim, dos pais e treinadores que são quem tem a responsabilidade máxima de filtrar toda esta informação que chega à criança. Como? Pelo exemplo.

Também quando se definem os objectivos da época, seja para o clube, para a equipa ou para o jogador, estamos a passar mensagens para as crianças. Se o que interessa é vencer, então o que estamos a ensinar é que isso é o mais importante na vida: vencer. Atenção, neste caso, não estamos a formar, mas apenas a ensinar. Ou, se quiserem, a deformar.

A palavra de ordem aqui é Coerência. O nosso comportamento, seja como pai ou treinador, tem que ser coerente com o que dizemos.

Numa nota final, pais e treinadores, lembrem-se que, vencendo ou perdendo domingo a domingo, aquilo que fizerem irá ecoar na pessoa que essa criança será para o resto da vida.

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