A participação dos jovens no desporto é um tema frequente, mantendo-se, no entanto, um afastamento entre o que se diz ou escreve e os atos praticados diariamente por TODOS os agentes envolvidos.
Vivemos, cada vez mais, num mundo globalizado em que a mediatização do desporto profissional ajuda na criação de expetativas e transmite uma imagem segundo a qual só a vitória e o ser campeão são valorizados. Os insucessos são sempre referidos como incompetência e servem para «chacota». As redes sociais são eco de clubites exacerbadas e de falta de cultura desportiva, mesmo por aqueles que têm prática desportiva. Por isso, algo falhou nessa prática!
Uma meta que não é alcançada não é necessariamente um fracasso. Porém, erradamente é vista assim mesmo que tenha existido a superação. Nem sempre somos os melhores e não temos de ser penalizados por isso!
Atualmente a preparação dos jovens dispõe de metodologias adequadas às suas idades, o que constitui uma evolução. Só a forma de encarar a competição não evolui.
Aos treinadores que têm um papel relevante exige-se que tenham sempre em consideração os verdadeiros interesses e necessidades dos jovens praticantes e não se desviem deste processo por agenda própria ou para satisfazer interesses de terceiros. Não se pretende treinadores que visam satisfazer a sua sede de resultados e que, muitas vezes com a cumplicidade dos clubes e da família dos jovens, se tornam todos poderosos, dispõem dos atletas da formação como seus e ultrapassam as funções que lhe estão determinadas.
O trabalho do treinador tem de estar orientado para uma evolução qualitativa e quantitativa, pois sabe-se que a grande maioria dos jovens não vão ser atletas profissionais, ou mesmo amadores.
Por experiência, erros e observações próprias e alheias, constata-se que os principais desvios não ocorrem nos jogos, mas no contexto que rodeia o jovem. A pressão ou desinteresse total das famílias, os excessos dos treinadores, a falta de rigor em que decorrem as competições e a tentação dos clubes em ganharem títulos são alguns dos motivos que estão na origem desses desvios.
Também os pais exercem uma pressão excessiva e criam expetativas irrealistas que levam à frustração. Daí à violência é um pequeno passo. O abandono da prática desportiva é cada vez mais precoce. Estas vão ser gerações de desportistas frustrados. Quando forem pais, vão ser mais desrespeitosos para com treinadores, árbitros e atletas. E entra-se nesta espiral de abandono cada vez mais precoce, que leva a pais mais pressionantes, que levam a abandono mais precoce.
Por tudo isto, seres humanos civilizados, educados e serenos chegam a transformar-se em verdadeiros holligans! Urge irradiá‑los dos espaços desportivos. Urge banir a violência física e verbal. Urge educar o sonho dos nossos jovens mostrando que nem sempre somos os melhores, mas podemos sempre dar o melhor de nós mesmos.
Vitor Santos, Autor do livro: “Educar o sonho: ética e envolvimento parental na prática desportiva”
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