Decorreu em Inglaterra uma iniciativa denominada “o silêncio é de ouro” que consistiu em que, nos jogos de determinado fim de semana de crianças com idades inferiores a 10 anos, os treinadores, dirigentes e pais não podiam dar instruções.

Só se permitia o aplauso e o incentivo sem recorrer a ordens, o que excluía os tradicionais chavões como “remata”, “passa”, “sobe”. A ideia era a criança decidir por si o que fazer.

Os treinadores tinham de permanecer calados durante os jogos, permitindo que as crianças jogassem sem “ordens”, instruções ou conselhos, e que fossem elas a tomarem as suas próprias decisões quer fossem individuais, quer coletivas. No intervalo, o treinador podia falar com os atletas, mas não sobre o jogo e claro está que podia fazer substituições.

Os pais podiam aplaudir, encorajar, mas sem nunca utilizarem as expressões de “treinadores de bancada”.

Esta iniciativa visava, principalmente, melhorar o comportamento dos adultos e foi um enorme desafio para os treinadores, visto que não podiam cumprir a sua função: orientar. Por outro lado, permitia‑lhe avaliar o poder de decisão dos seus atletas e a aplicação prática no jogo dos conhecimentos adquiridos nas sessões de aprendizagem/treinos.

“A prática de desporto está associada a um aumento do bem-estar físico, psíquico, social e neuro-cognitivo. A necessidade de respeitar regras e de partilhar responsabilidades, bem como a disciplina individual e coletiva que a prática de uma modalidade desportiva incutem, são promotoras de autoconfiança.”, Carla Rego (pediatra)

O treinador a que os ingleses chamam “Mestre fantoche”, que dirige os jogadores em todo o campo, dizendo o que estes devem fazer e onde se devem posicionar sentiu mais dificuldades. É um treinador que pretende sempre que o jogo seja um guião escrito por si quando estamos a falar de crianças.

Para os pais também não foi fácil a situação de se se remeterem ao seu papel de pais sem interferir na decisão dos filhos e dos colegas, e permitir que o árbitro arbitrasse sem contestação ou piadas de mau gosto.

Mas o facto mais curioso, ou não, desta iniciativa é que houve clubes que adiaram os seus jogos, marcados para esse fim de semana, para não terem de viver esta experiência. Além disso, não houve repetição da iniciativa porque alguns treinadores comunicaram que é prejudicial ao desenvolvimento dos atletas e alguns pais consideraram que o jogo assim não motivava os seus filhos!

Estas iniciativas devem ser pontuais e servem apenas de barómetro, em treinos já se faz isto. Não devem ser a regra. Mas temerem participar por sentirem que estão mais perto de não ganhar por não serem parte ativa não é a melhor forma de os clubes, treinadores e pais estarem no desporto infanto-juvenil. Faltou ouvir a opinião das crianças.

Por isso, parece que afinal o silêncio não é de ouro para todos. Seria tempo de nós por cá silenciarmos as vozes do supérfluo para podermos apreciar o brilho do jovem atleta em formação, que, esse sim, é o verdadeiro ouro.

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