Imaginem um avançado que se encontra a andar no campo e de repente tem de realizar uma aceleração para ir recepcionar uma bola longa vinda do seu guarda-redes. Ele passa de uma situação de quase parado para aceleração máxima numa questão de segundos! Nesse momento existe um défice de oxigénio sendo que o sistema respiratório é muito lento para produzir os restantes ATP (combustível) necessário. Onde se vai buscar o resto do combustível?

Sistema Fosfato

Não existe problema nenhum para o avançado passar de uma situação em que se encontra a andar para uma situação de sprint, apesar do défice de oxigénio mencionado anteriormente. Aparentemente, os músculos contêm um armazenamento de ATP que se chama sistema Fosfato. Cada vez que o jogador realiza uma acção explosiva, ele pede “emprestado” ATP a este sistema.

Como todos os empréstimos, resultam em dívidas. Esta dívida é chamada dívida de oxigénio.

Pedir ATP emprestado do Sistema Fosfato é uma solução temporária, pois a capacidade deste sistema não é muito grande. Este sistema apenas contém combustível suficiente para realizar acções explosivas máximas durante 6 a 10 segundos. Vai chegar um momento em que o sistema se encontra completamente esgotado. Onde vamos buscar o combustível para fazer a acção futebolística seguinte?

Sistema Láctico

Felizmente o corpo tem outro armazenamento de ATP: o Sistema Láctico. O problema de pedir emprestado combustível a este sistema é que ácido láctico é libertado para os músculos. Uma acumulação de ácido láctico é o preço que um jogador tem de “pagar” por pedir ATP emprestado a este sistema. Em resumo, pedir ATP emprestado pelo sistema láctico não é ideal quando um jogador tem de realizar 150 a 200 acções explosivas nos 90 minutos do jogo. A acumulação de ácido láctico pode significar que um jogador está pronto para ser substituído.

Agora temos um problema! O sistema respiratório é muito lento, o Sistema Fosfato esgota-se rapidamente e o Sistema Láctico leva a acumulação de ácido láctico e consequente fadiga. O corpo não tem outros armazéns para ir buscar combustível.

E Agora?

Partimos do exemplo mencionado anteriormente do avançado que realiza uma acção explosiva para receber uma bola enviada pelo guarda-redes. Agora imaginem que esse avançado consegue fintar dois defesas, rematar e fazer golo. Durante este sequência de acções o seu batimento cardíaco aumenta gradualmente até 180 bpm, o avançado continua a inalar 5 litros de oxigénio e a produzir 50 ATP (dados fictícios). Depois de marcar o golo e celebrar, dirige-se para o seu meio-campo a andar.

Quando se encontra a andar para voltar para o seu meio-campo, o avançado continua a inalar 5 litros de oxigénio embora só precise de 1 litro para andar. O batimento cardíaco ainda não teve tempo para baixar e os músculos continuam a “queimar” gorduras e hidratos de carbono para produzir 50 ATP embora agora só ser preciso 10 ATP! O que acontece a estes 40 ATP extra que estão a ser produzidos? São usados para pagar de volta a dívida que foi criada por pedir emprestado ATP ao Sistema Fosfato ao sprintar. Estes 40 ATP extra são usados para restaurar o Sistema Fosfato.

O Treinador

Como pode o Treinador observar se o seu jogador tem um Sistema Fosfato, totalmente restaurado? Observando a sua respiração. Quando o Sistema Fosfato for totalmente restaurado, não são precisos ATP adicionais, não é preciso inalar oxigénio extra e o jogador já não está sem fôlego.

Em média, jogadores de futebol amadores precisam de mais tempo para recuperar o fôlego que os jogadores profissionais. Precisam de mais tempo para recuperar entre acções e por isso o ritmo de jogo vai ser mais baixo no futebol amador que no profissional.

Bibliografia:

Verheijen, R. (2016) The Original Guide to Football Periodisation. The Netherlands, 2nd Edition. World Football Academy.

1 Comentário

  1. André Tavares
    3 Maio, 2018
    Responder

    Bom Artigo.

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