Anaeróbio? Aeróbio? ATP?……E o que é que isso me diz sobre Futebol?

Durante muitas décadas, estes termos foram usados para exprimir os sistemas energéticos que ocorrem no corpo do futebolista durante o treino e jogo, dando muitas dores de cabeça aos treinadores para compreende-los. A dificuldade? Não é linguagem especifica do futebol! O problema surge porque temos partido da fisiologia e depois projectámos para o futebol, quando o contrário tem de ocorrer. Primeiro temos de analisar o jogo, propriamente dito, e depois aplicar a fisiologia de acordo.

O Combustível (ATP)

O corpo precisa de combustível para trabalhar pois mesmo estando parado, uma data de processos fisiológicos estão a ocorrer (batimento do coração,respiração,e.t.c). Um jogador de futebol precisa e consome combustível quando está parado, a andar, a correr e a saltar. Mas de onde é que o combustível vem?

Sistema Respiratório (Oxigénio)

O papel do oxigénio no corpo pode ser explicado recorrendo ao exemplo de uma vela a arder. Se acendermos a chama ela vai queimar com agrado. No entanto, se colocarmos um copo por cima da vela ela vai-se extinguir. Porquê? Porque passado um tempo já não existe mais oxigénio no copo. A chama arde como resultado de um processo que consome oxigénio. No corpo humano o oxigénio é necessário para queimar as gorduras ou hidratos de carbono para produzir energia.

Como é que isto acontece?

Sistema Circulatório

Com cada batimento o coração bombeia sangue por todo o corpo. Via sanguínea o oxigénio é transportado para os músculos que contêm armazenado as gorduras ou os hidratos de carbono. Nos músculos ocorre a “conversão” dessas gorduras em ATP (abreviatura do nome químico), que depois vai ser usado pelos músculos como “combustível”. Precisam os treinadores de futebol saber o nome cientifico e a fórmula química deste componente ATP para serem bons profissionais? Não. Afinal de contas não precisamos de saber a fórmula química da gasolina para conduzirmos bem um carro.

Os jogadores utilizam o “combustível” para sprintar, correr, andar, saltar e estar parados. É claro que para acções mais intensas (explosivas) mais “combustível” vai ser necessário. Por exemplo: Andar-requer 10 ATP (dados fictícios). Para produzir esse combustível é necessário inalar pelos pulmões 1 litro de oxigénio e depois transportá-lo para os músculos pelo sangue. A velocidade da circulação sanguínea é determinada pela frequência cardíaca (batimento cardíaco). Quanto maior o batimento cardíaco mais rapidamente o sangue chega aos músculos.  Correr- requer 40 ATP. Para produzir esta quantidade, mais gordura tem de ser consumida no músculo, o que requer mais oxigénio. O jogador tem de inalar agora 4 litros de oxigénio o que o obrigará a respirar mais depressa. Para transportar esses 4 litros dos pulmões para os músculos rapidamente, o batimento cardíaco tem de aumentar e o coração tem de trabalhar mais.

E no Futebol?

Como todos sabemos, futebol é um deporto de alta intensidade onde as acções são intermitentes, com mudanças regulares de intensidade. Durante um jogo de futebol, a actividade física varia de uma sequência de sprints, para uma recuperação com o jogador muitas das vezes a caminhar ou mesmo parado. Imaginem um avançado que se encontra a andar no campo e de repente tem de realizar uma aceleração para ir recepcionar uma bola longa vinda do seu guarda-redes. Ele passa de uma situação de quase parado para aceleração máxima numa questão de segundos! Instantaneamente, ele precisa de 5 litros de oxigénio em vez de 1 litro para produzir os 50 ATP necessários para sprintar.

É impossível aumentar o batimento cardíaco e a frequência respiratória tão rápido, como o exemplo acima descrito o necessita. Quando o jogador que está a andar começa a sprintar, os músculos só têm 1 litro de oxigénio disponível para produzir os 50 ATP necessários para desenvolver essa acção. O sistema respiratório é muito lento para produzir os restantes 40 ATP. Desta forma existe um défice de oxigénio! Como é resolvido este problema?

A resposta a esta pergunta será dada no próximo artigo.

Bibliografia:
Verheijen, R. (2016) The Original Guide to Football Periodisation. The Netherlands, 2nd Edition. World Football Academy.

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