Nos dias em que vivemos, não é surpresa a publicação de notícias respeitantes a um conjunto de questões relacionadas com a violência. Estas situações merecem muita atenção por parte da Comunicação Social. Como o desporto está integrado na sociedade, também ele está sujeito a conviver com estes comportamentos. Daí que o policiamento seja um mal necessário. Os intervenientes no jogo, sejam eles treinadores, jogadores, dirigentes ou árbitros, precisam de se sentir em segurança para poderem disfrutar da prática desportiva, do verdadeiro jogo.

Na formação, os clubes tendem a esconder estes atos de forma a não serem molestados e a manterem uma imagem imaculada, dando a ilusão de que tudo corre sempre bem. A verdade é que semanalmente acontecem casos de violência verbal e mesmo física nos desportos praticados por crianças e jovens. Se estivermos com atenção e observarmos que o público destes jogos é, na sua maioria, constituído pelos familiares dos atletas, estamos perante uma situação muito mais gravosa.

A pressão que hoje é incutida em crianças de tenra idade é, no entanto, a grande diferença em relação ao que acontecia no final do século passado. Sempre houve campos e pavilhões onde todos temiam jogar pelo clima de terror que era criado à volta de cada jogo.

Os pais não acompanhavam os atletas e as situações ocorriam entre os clubes e alguns adeptos mal formados e, muitas vezes, alcoolizados. Hoje, os pais são os adeptos e, à força de quererem vencer a todo o custo, adicionam a pressão sobre os filhos, os colegas e treinadores.

Por outro lado, a pressão exercida pelos progenitores leva à criação de expetativas exacerbadas que conduzem a desinteresse e mesmo frustrações muito precoces. O abandono da prática desportiva regista‑se cada vez mais cedo e cada vez atinge um maior número de jovens. Estas vão ser gerações de desportistas frustrados. Quando forem pais, vão ser mais desrespeitosos para com treinadores, árbitros e atletas. Entra-se pois nesta espiral de abandono cada vez mais precoce, que leva a pais mais pressionantes, que por sua vez levam a abandono mais precoce.

Em 1000 crianças‑atletas, só uma chega a profissional. Os que não atingem este patamar, como vão vivenciar o desporto?! Se a prática desportiva que conheceram foi a da vitória a qualquer custo, da pressão de ser o melhor, de não ter necessidade de perceber/pensar o jogo, não se pode esperar milagres. Provavelmente vão limitar‑se a ser mais uns adeptos fanáticos de sofá e de redes sociais de um clube de Lisboa ou do Porto.

A humanidade é realmente feita de muitas contradições. Numa época em que legislamos para os animais entrarem em restaurantes, ao mesmo tempo procede-se à criação de «jaulas» nos estádios para as pessoas! É um paradoxo os adeptos precisarem de ser confinados a «caixas de segurança» para assistirem a um espetáculo desportivo!

Por tudo isto, seres humanos normalmente civilizados, educados e serenos chegam a transformar-se em verdadeiros holligans! Urge irradiá‑los dos espaços desportivos. Urge banir a violência física e verbal. Urge educar o sonho dos nossos jovens, mostrando que nem sempre somos os melhores, mas podemos sempre dar o melhor de nós mesmos.

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