Actualmente é enorme a quantidade de crianças e jovens que ambicionam um dia vingar no futebol profissional, implicando que por parte dos clubes haja uma preocupação por detectar e seleccionar crianças e jovens com características que o possam tornar profissional da modalidade e que revelem potencial para integrar as suas equipas.

Seria tudo mais simples se todos tivéssemos uma bola de cristal que nos mostrasse a próxima estrela do futebol logo aos 3 anos de idade. Segundo autores a detecção de talentos é mesmo adivinhação educada (Ankerson, 2015), pois arriscamo-nos a ver e a compreender uma coisa que afinal não existe ainda.

É por isso que a identificação de talentos, num desporto de equipa como o Futebol, é muito complexa e é adequado realizar uma abordagem multi-variada (Reilly, Williams, Nevill & Franks, 2000) tendo em conta diversos factores:

1Um foco total, na performance actual e imediata, pode conduzir a talento negligenciado. Isto acontece quando os Treinadores estão sob pressão ou querem resultados instantâneos. Apenas contemplarão a performance/desempenho do atleta no momento e não procurarão explicações para esta. Para detectar potencial, devemos ser capazes de olhar “mais além” e identificar as qualidades complexas e multifacetadas que levam alguém a aprender e a continuar aprendendo (Ankerson, 2015). O desempenho actual pode certamente ser um forte indicador de potencial, mas está longe de ser sempre o caso. Um desempenho actual superior, não se manifesta necessariamente em grande potencial futuro.

Não é sobre a performance. É sobre a história por detrás da performance! Exemplo do icebergue:

Por exemplo: Temos um jovem avançado de 12 anos que em 10 jogos marcou 8 golos. Depois vemos outro que em 10 jogos marcou 6 golos. Tudo parece apontar para escolhermos o jovem que marcou mais golos. No entanto, se entendermos que o talento não depende apenas da medição da performance actual iremos procurar outros factores que a expliquem como o historial de treino. Imaginem que o jovem retratado no segundo exemplo vem de uma equipa fraca, ambiente familiar difícil, teve poucos treinos e um mau acompanhamento e instrução, enquanto que o jogador retratado no primeiro exemplo sempre teve um historial de treino qualificado, um ambiente familiar estável e bons Treinadores. Isto poderá querer dizer que o segundo jovem terá um potencial maior que o primeiro jovem.

O problema é que medir a performance do individuo é a maneira errada de olhar para o problema e é provável que se “deixe passar” talento que sussurra (ver post intitulado-Talento). Olhar para além da superfície desta maneira, requer coragem!

2Talento vem em todas as formas e feitios. 1 palavra: Garrincha. O futebolista brasileiro que Pelé apelidou como um dos melhores jogadores de sempre não se enquadrava no estereótipo físico que um jogador de futebol deve ser. Não só se desenvolveu relativamente tarde, como nasceu com uma perna 6 centímetros mais pequena que a outra.

Se algum Dirigente/Treinador não acreditasse que o talento vem em todas as formas e feitios, um dos melhores jogadores e dribladores de sempre teria sido rejeitado. Realmente vale a pena desafiar os nossos próprios estereótipos sobre o que o talento parece!

3 Maior não é sempre melhor. Este factor está relacionado com o efeito da idade relativa. É por isso que jogadores nascidos em Janeiro, Fevereiro e Março estão constantemente sobre-representados nas equipas de futebol de todo o Mundo. As diferenças físicas escondem o talento dos jovens jogadores (Verheijen, 2016). No recrutamento, as pessoas assumem que estão a descobrir talento quando, de fato, o que estão a descobrir é superioridade física devido a um desenvolvimento antecipado. Muitos olheiros escolhem com base no que os jogadores fazem com sucesso, mas não com base no que eles tentem fazer, mesmo que falhem (Verheijen, 2016). É também sabido que o efeito da idade relativa tende a esbater-se com o tempo, portanto o que se vê não é sempre o que se recebe.

Zlatan, Rooney, Pelé: Outubro          Ronaldo: Setembro        Xabi: Novembro            Alexis: Dezembro

Trabalhando em clubes que não têm  grande poder de recrutamento de jogadores, torna-se então necessário avaliar as competências e qualidades dos jovens e fazê-los evoluir.

Mais importante que a selecção de talentos será então a promoção de talentos. Quão bons somos nós, Treinadores, a capitalizar esse potencial existente?

Ankerson, R. (2015) The Gold Mine Effect: Crack the secrets of high performance. 2ªEdição. UK: Icon Books Ltd.

Reilly T, Williams A., Nevill A.,Franks A.(2000). A multidisciplinary approach to talent identification in soccer. Journal of Sport Sciences,v.18, pp. 695-702.

Verheijen, R. , Kolfschooten, F. (2016). Mais simples do que isto? 1º Edição. World Football Academy

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