“Mister posso ir à baliza?”. Esta é uma daquelas perguntas que todo o treinador de formação, essencialmente nas idades iniciais, já se deparou. Então, o que fazer perante esta situação? Na minha opinião as crianças devem ter a oportunidade de experienciar os mais diversos estímulos durante toda a sua infância. No futebol aplica-se a mesma lógica.

O principal objetivo de um treinador de formação deve ser formar atletas o mais completos possível, pois a diferenciação ocorrerá em idades mais avançadas. A especialização da posição, das suas funções dentro do terreno de jogo, acontece muitas vezes de forma precoce, o que acaba por retirar toda a versatilidade que o atleta poderá vir a ter. Durante os primeiros escalões de formação, os atletas devem ter a possibilidade de ocupar todas as posições, do guarda-redes ao avançado e de sentir o que é marcar um golo ou defender um penálti.

Esta especialização da posição do atleta (na minha opinião, errada) deve-se em grande parte as suas características morfológicas: se é alto é colocado a guarda-redes, se é forte fisicamente joga a defesa ou se é rápido é encostado à linha; mas também ocorre quando os treinadores colocam os resultados coletivos à frente da evolução individualizada dos jogadores, não pensando no que é melhor para cada um mas sim no que é melhor para a equipa. Estamos a privar os nossos atletas e principalmente as nossas crianças, de experimentarem o que realmente importa: jogar o futebol pelo futebol.

A única especialização que deve ocorrer no jovem jogador de futebol é a do gosto pela modalidade.

Este leque de experiências que deve ser oferecido pelos treinadores aos jovens atletas potencia a sua autonomia e versatilidade, para além de dar a oportunidade aos jogadores de se equiparem com um reportório de ações essenciais para se jogar futebol.

O conjunto de posições a ocupar no terreno diminui com o passar do tempo (salvo raras exceções) até que ocorra de forma natural a tal especialização.

São vários os casos no futebol profissional, onde a posição que caracteriza o atleta hoje em dia, não é aquela com que o mesmo começou a jogar futebol. Veja-se o caso de Rui Patrício, atual guarda-redes do Sporting Clube de Portugal e campeão europeu pela Seleção Nacional. É hoje considerado um dos melhores guarda-redes da europa e, no entanto, iniciou a sua carreira no futebol como … avançado do Marrazes (clube onde se iniciou como jogador de futebol). Imagine-se que a escolha de ir à baliza, feita por Rui Patrício, lhe era negada. Portugal teria perdido aquele que será sem dúvida um guarda-redes que ficará na história da nação.

Por outro lado, no futuro, o facto de um jogador ser versátil ao ponto de saber desempenhar várias funções dentro do terreno de jogo não só é benéfico para a sua equipa na resolução dos diversos problemas, como para o próprio atleta pois está preparado para enfrentar as mais distintas situações que o jogo proporciona.

Cabe ao treinador de formação assumir o papel de principal responsável pela panóplia de experiências que devem fazer parte da infância dos jovens jogadores, deixando-os escolher a posição que querem ocupar, mesmo que aquela não seja a função que mais se adapta ao atleta ou à equipa.

Assim é da responsabilidade do formador dosear da melhor forma a versatilidade e a especialização dos atletas, pensando sempre no sucesso individual e só depois no sucesso coletivo.

O que importa, para além de formar, é formar bem!

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