O psicólogo do desporto tem um papel essencial no contexto do futebol de formação com o objetivo de ensinar os atletas a promover as suas capacidades psicológicas no treino e na competição. Fá-lo através de programas estruturados e organizados abordando diversas temáticas, como, a preparação mental para um jogo importante, como reagir e lidar perante situações adversas e imprevistas na competição (Treino integrado de competências psicológicas), ensino de estratégias de controlo e regulação de todo um conjunto de fatores psicológicos. Um dos aspetos primordiais para o sucesso do treino psicológico no futebol é a necessidade do psicólogo discutir e debater ideias, bem como integrar-se com atletas, treinadores, dirigentes e pais.

Competências psicológicas são condutas simples ou complexas, que os indivíduos colocam em prática, de modo a lidarem eficazmente, com situações problemáticas, dificuldades ou desafios que se lhe apresentem.

As competências psicológicas estão sujeitas às leis da aprendizagem, tais como a modelagem, o condicionamento clássico ou operante, sendo também resultantes da experiência do indivíduo que as coloca em prática.

Um programa de treino de competências psicológicas no desporto de formação, identifica, analisa, ensina e treina as competências cognitivas, motoras psicofisiológicas mais directamente relacionadas com o treino desportivo.

Os destinatários de um programa de competências psicológicas para o desporto são em primeiro lugar seres humanos e somente depois atletas. Com um programa de treino de competências psicológicos adaptado ao desporto, espera-se que estes destinatários, atinjam um maior crescimento e desenvolvimento pessoal enquanto seres humanos, para que possam, posteriormente, promover e optimizar o seu rendimento desportivo enquanto atletas.

A investigação efectuada na área da Psicologia do Desporto e da Actividade Física, é unânime em considerar que as principais competências abordadas neste género de programas são o relaxamento, a atenção/concentração, a imaginação e visualização mental, o pensamento positivo, a autoconfiança, a resiliência, a formulação de objectivos, o controlo do stresse e da ansiedade, a motivação, a orientação para a tarefa e não para o resultado, a coesão de equipas, as rotinas e planos pré e pós competitivos, a comunicação, o controlo e eficaz regulação da activação corporal e a auto-avaliação.

Relativamente à estruturação de um programa de treino de competências psicológicas, ela assenta em três fases distintas. A fase de Educação/Formação, na qual se visa consciencializar os principais agentes desportivos intervenientes no programa, para a importância de aprenderem e compreenderem como os diferentes factores psicológicos influenciam o rendimento. A fase de Aquisição, durante a qual é efectivada a aprendizagem das técnicas e estratégias que conduzem à mestria nas diferentes competências psicológicas, procurando responder às necessidades únicas de cada atleta/treinador. Finalmente numa terceira fase, a de Prática, em que se automatizam as competências aprendidas, ensinando os atletas/treinadores a integrarem as respectivas competências psicológicas, de uma forma sistemática, nas suas prestações desportivas.

No que respeita ao desenvolvimento e consequente implementação de um programa de treino de competências psicológicas, ele obedece a cinco etapas diferenciadas.

Em primeiro lugar, a definição de objectivos a atingir, pretende, através do diálogo com treinadores e atletas, informar que tipos de serviços de treino podem ser prestados, explicando previamente os diferentes tipos de abordagens na consultoria em Psicologia do Desporto e da Actividade Física (Educacional vs. Clínica).

Numa segunda etapa, é realizada a avaliação das necessidades e competências psicológicas dos atletas/treinadores, analisando quais os pontos fortes e fracos dos mesmos através da utilização de diversos instrumentos de diagnóstico. A avaliação das necessidades individuais e colectivas constitui uma etapa fundamental na preparação e organização dos programas de treino de competências psicológicas. Para além da observação, do diálogo com os intervenientes e outros significativos do processo, das entrevistas, existem inúmeros instrumentos de medida para a avaliação das competências psicológicas. Como exemplo temos o PSIS (Inventário de competências psicológicas no desporto), contendo afirmações relacionadas com vários aspectos e factores psicológicos associados ao rendimento desportivo, tais como controlo da ansiedade, motivação, concentração, etc. Existem, contudo, outros instrumentos, igualmente válidos, tais como, o ACSI 28 (Athletic Coping Skills Inventory), o TAIS (Test os Attentional and Interpersonal Style), o POMS (Perfil dos Estados de Humor), ou o SAS (Sport Anxiety Scale). Nesta fase é de fundamental importância, a integração das necessidades dos atletas com as exigências da modalidade, no desenvolvimento de estratégias competitivas de preparação mental, já que só deste modo se poderá determinar quais os factores psicológicos que devem ser prioritários na preparação mental para a competição.

Numa terceira fase será fundamental determinar e identificar as competências psicológicas que serão trabalhadas no programa de treino, tendo por base o tempo para isso disponibilizado, bem como o interesse por parte dos treinadores e atletas.

Na quarta fase será elaborado e determinado o horário de treino das competências, que poderá englobar sessões formais alternadas com outras de carácter mais informal.

Finalmente na quinta e última fase será realizada a avaliação qualitativa e quantitativa do programa de treino, bem como da sua eficácia no desenvolvimento e mudança das competências psicológicas junto dos atletas e treinadores.

Como em qualquer situação de ensino/aprendizagem, um programa de treino de competências psicológicas tem também algumas dificuldades e problemas na sua implementação. É bastante frequente surgir junto de treinadores e atletas, a imagem de que o Psicólogo é um bruxo, psiquiatra ou “tratador de malucos”. A falta de conhecimentos específicos da modalidade na qual se vai intervir pode colocar em causa a credibilidade de um técnico e consequentemente arrasar o seu programa de competências psicológicas.

A falta de formação por parte de alguns agentes desportivos, funciona igualmente como obstáculo, podendo levar à formulação de expectativas irrealistas relativamente aos programas de treino, esperando-se muitas das vezes, que a implementação dos mesmos, possa operar uma cura rápida e milagrosa para competições decisivas e importantes, ou para situações de fracasso contínuo e inexplicável.

A definição e determinação clara das competências a incluir num programa de treino, constituem outro grande problema, já que o tentar fazer demasiado num curto espaço de tempo, poderá ter elevados custos para o psicólogo, que se arrisca a fazer pouco, e mais uma vez perder a credibilidade e consequente respeito junto dos atletas. Por esta mesma razão será importante definir, à partida, quais e quantas competências deverão ser incluídas no programa, tendo em conta a altura da época em que o programa irá ser implementado, bem como a quantidade de tempo que atletas e treinadores estão dispostos a dedicar ao mesmo.

A implementação do treino de competências psicológicas poderá ocorrer nos mais diversos níveis e momentos do treino/jogo, tais como:

  • Expulsão injusta de um jogador e melhor forma de re…agir perante isso;
  • Expulsão do guarda-redes e preparação do jogador que o vai substituir;
  • Re…ação por parte da equipa a um golo mal anulado;
  • Começar o jogo a perder ou a ganhar (ajudando na definição das melhores competências psicológicas, para a melhorias das competências técnico-tácticas);
  • A equipa está a ganhar, mas encontra-se de repente em inferioridade numérica;
  • A equipa está a perder e encontra-se em inferioridade numérica;
  • Equipa com possibilidade de ganhar o jogo, caso converta um penalti, um livre ou um canto;
  • Equipa que perde uma vantagem folgada no marcador;
  • Equipa perante uma significativa desvantagem no marcador;
  • Equipa subitamente privada de treinador/referência técnica;
  • Equipa perante público desestabilizador;
  • Equipa perante condições climatéricas adversas.

O êxito e eficácia de um programa de treino de competências psicológicas terá obrigatoriamente de passar, pela efectiva responsabilização e participação de todos os agentes desportivos, nomeadamente, equipas técnicas, dirigentes, atletas e pais, em todas as fases do seu desenvolvimento.

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