Olá caro leitor!

A sociedade atual, seja qual for a geração que a engloba, vive num contexto “Millenium”, onde a tecnologia e o acesso rápido á informação dominam o quotidiano de qualquer atividade. Estas características trazem, claro está, bastantes aspetos positivos, como a rapidez na busca por informação/conhecimento, ou mesmo uma capacidade para gerações mais velhas desdobrarem as suas valências para se adaptarem a este contexto… o contexto do aqui e agora… do “tudo á distância de um clique”.

No entanto, há outras características que, com o varrer dos anos se estão a diluir… falamos da falta de consciência para o fator “tempo” ou na vontade de se obter resultados imediatistas, sendo este tipo de orientação predominante… o resultado! Como sabemos, o foco excessivo no resultado acrescenta instabilidade e stress a um individuo, ou no contexto desportivo, a uma equipa! Por isso, e como disse Sérgio Conceição numa entrevista recente a uma estação de televisão ” Eu sei que há valores que já não se usam… mas sabem? Eu não me privo deles no meu trabalho!”.

Portanto, podemos perceber de uma forma simples que esta cultura obsessiva pelo resultado, não advém apenas do contexto desportivo, mas sim de uma sociedade que parte para uma busca incessante pelo alcance rápido, pelo crescimento sem ter em consideração o mais importante… a aquisição e consolidação de conhecimentos e habilidades… do respeito pelo tempo!

Mais uma vez a velha máxima pode ser utilizada… “no desporto como na vida!”.

Cultura Focada nos Resultados

Todas as equipas, independentemente do seu escalão ou nível competitivo, procuram resultados! Ouvimos muitas vezes falar em treinar para recriar. Mas vamos pensar, que motivos levam as crianças a praticar a modalidade x ou y, ou o treinador de iniciar o seu percurso? Ter sucesso, aprender, evoluir, mas acima de tudo marcar golos… ganhar! Ou seja, a génese está em ganhar… no marcar mais golos e sofrer menos e… se possível que seja eu a marcar o golo da vitória. Esta é a génese comportamental. Que com o processo de formação tem de ser ajustada aos princípios e valores coletivos. Mas desses ajustes falaremos mais para a frente.

A Psicologia do Desporto não considera os resultados uma palavra má para o processo de evolução e aprendizagem. Bem pelo contrário, é uma consequência com base em tudo o que é trabalhado. No entanto, é essencial determinar o peso que essa palavra terá no processo.

Vamos então perceber algumas características que englobam os resultados desportivos:

  • É a interação entre o desempenho do atleta/equipa e o ambiente (condições físicas e atmosféricas do local, adversário, árbitro…)
  • É a consequência do que é realizado (é o resultado final do conjunto de comportamentos realizados pela equipa durante o jogo);
  • É uma variável repleta de fatores externos (logo que, acrescenta instabilidade emocional)

Vamos agora perceber as características que englobam o desempenho/processo desportivo:

  • Representa o nível de desempenho do comportamento desportivo do atleta/equipa no treino/jogo;
  • Representa uma razão para o desempenho (basicamente é a causa… a estratégia ou plano de ação);
  • É uma variável independente de fatores externos (se nos concentrarmos só no desempenho, estamos a promover estabilidade á equipa pois são aspetos que estão dentro do controlo para trabalharmos)

Podemos resumir os pontos em cima descritos com esta frase: A equipa aumenta a probabilidade de obter os resultados desejados caso oriente a sua atenção para o desempenho! Ou seja, para os aspetos que a equipa tem a manter, consolidar, eliminar e acrescentar. Isto sim, os elementos da equipa controlam.

No entanto, sabemos que a realidade actual nem sempre é assim. Por vezes, não direcionamos nem orientamos a nossa atenção para o crescimento e consolidação da equipa… que consequentemente nos aproximará dos resultados que pretendemos. E deixamo-nos levar pela avaliação dos comportamentos no jogo pelo resultado. De tudo se tratar de ganhar ou perder. Seja na formação ou no contexto sénior torna-se muito possível que a orientação excessiva para o resultado limite a experiência no desporto, pela pressão de ganhar ou medo de perder.

A Pressa do Resultado na Formação Desportiva

“O treinador só pensa nos resultados ao treinar miúdos de 11 anos!! E a aprendizagem?” Quantas vezes não ouvimos este tipo de comentários pelos corredores de estádios e pavilhões, ou até mesmo em formações, Workshop’s e Forum’s.

Sim de facto é algo que acontece na formação seja de que modalidade for. Essa orientação para o resultado, limita o respeito pelas fases de desenvolvimento do atleta, a sua criatividade e procura guiada por soluções positivas que o processo tentativa e erro tão bem ajuda a evoluir, através da aprendizagem espontânea. Ou seja, estamos a falar de que a cultura do resultado afeta o próprio processo de formação.

Vamos então tentar perceber algumas razões para que tal se suceda:

  • Existem pessoas especializadas em todos os clubes para avaliar o trabalho dos treinadores de acordo com o programa de formação estabelecido?
  • Que conhecimento desportivo têm grande parte dos dirigentes para avaliar as competências do treinador, para além do fator resultado.
  • O que pretendem os grande parte dos pais no processo de formação dos seus filhos (quais as expectativas, quais os motivos, como avaliam, sabem qual o seu papel?) Neste campo posso dar apenas um exemplo que dou nas minhas formações: já vi pais a estabelecerem objetivos de dinheiro a cada golo marcado. O miúdo não atingiu, saiu a chorar, mesmo jogando bem. Fica para reflexão.
  • A projeção de carreira do treinador. Aqui recorro-me da entrevista recente de Luís Castro para citar “Os treinadores hoje são muito inquietos, naquilo que é a sua escalada. Olham sempre para cima, nunca para baixo. É perigoso para o futebol de formação”. Isto acontece como reflexo da sociedade… o atingir sem ter em consideração a linha natural e maturacional do tempo. Se calhar também pelo fator financeiro… O tempo…. sempre o tempo!

A Pressa do Resultado no Alto Rendimento Desportivo

Orçamentos, investimentos, patrocínios, influência de massas sociais, objetivos de carreira individuais, egos ou maus resultados. Tantas são as razões que nos podem fazer sair daquilo que todos, como técnicos em desporto, sabemos que é prioritário, o processo! A tal filosofia, o modelo de jogo, o treino, a estratégia, o feedback.

Aqui tenho de destacar Pep Guardiola “Só me preocupo com o jogo, a qualidade de jogo da minha equipa. Eu sei que se conseguirmos estar perto do que sabemos fazer… estamos sempre mais perto de ganhar.”

Independentemente dos fatores externos que em cima referi Pep Guardiola orienta todo o seu trabalho para os aspetos que controla. É a partir daqui que trabalha o seu modelo, ajusta o seu modelo á estratégia para cada jogo e estrutura o seu microciclo. A avaliação, tendo em conta estas características, acredito que a faça direcionada para o comportamento, independentemente do resultado obtido.

Um dos principais fatores e neste caso o único que vou destacar é a influência da avaliação do treinador após os jogos. Um treinador que esteja  orientado para o resultado, sendo esse o seu foco total na preparação e avaliação do jogo, tem tendência a generalizar comportamentos, pois vai considerar tudo bem após a vitória ou tudo mal após a derrota. Esse tipo de abordagem acrescenta na equipa enorme instabilidade, pois avaliam-se desempenhos com uma variável que não é controlada… o resultado.

Independentemente do momento da época ou de potenciais influências externas – sejam de que ordem for – o treinador deve manter uma coerência sobre o seu processo de trabalho. Sempre orientado para aspetos dentro de controlo, que promovam evolução e consolidação de comportamentos da equipa. Desta forma, a equipa bem como o treinador (na construção do seu trabalho) sentirá uma maior estabilidade, visto que trabalha na ausência de influências de fatores externos. Preocupando-se só com o que interessa… a produtividade da sua equipa!

Caro Leitor,

Até breve!

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