O futebol tem beneficiado nos últimos anos da integração de diferentes profissionais nas equipas técnicas, e por conseguinte dos conhecimentos que cada elemento traz ao grupo de trabalho. É o exemplo dos médicos e fisioterapeutas com especializações na área desportiva, dos osteopatas, dos preparadores físicos e fisiologistas do exercício, profissionais de coaching, psicólogos, dentistas, entre outros. Para este artigo focar-me-ei apenas em alguns aspectos da vertente física associada ao trabalho multidisciplinar, explicando a mais-valia de o treinador, os dirigentes e, em última análise, o clube investirem em ampliar a sua equipa técnica.
Esta integração tem-se traduzido num maior entusiasmo em torno do jogo, devido às melhorias na performance que os jogadores, e por conseguinte as equipas, apresentam. No entanto, isto também acarreta maior responsabilidade no que toca às metodologias de treino que, dessa forma, habilitam os jogadores a uma maior capacidade (nas vertentes físicas, técnico-táticas e mentais inerentes ao jogo) ao longo de toda a época desportiva (Football Medicine, 2015).
Na área da fisioterapia especificamente (a realidade que me é mais próxima), tem-se assistido à preponderância do fisioterapeuta enquanto treinador de força e condicionamento geral (strenght & conditioning coach), principalmente quando integrado em contexto de reabilitação, na última fase de reintegração na prática desportiva (return to play). Tenho tido conhecimento de diversos colegas fisioterapeutas a ingressarem em equipas de futebol profissional em todo o mundo.
Reabilitação á parte, há profissionais da área do exercício, preparadores físicos e fisiologistas que poderão desempenhar estas funções, contribuindo para a performance da equipa em geral, potenciando o trabalho do treinador.
Permita-me dar-lhe um exemplo, falando do tipo de esforços a que os jogadores de futebol estão sujeitos. Um estudo de Bradley et al. (2009, citados por Football Medicine) determina que há diferenças significativas na exigência física dos jogadores consoante a sua posição no campo, sendo os meio-campistas os que mais correm, e os que menos tempo têm de recuperação (cerca de 20 segundos entre esforços).
Considerando estes aspectos, as metodologias de treino no futebol deverão ter como foco a execução de alguns exercícios com acções de alta intensidade em curtos períodos de tempo, exercícios de força nos quais a aceleração e desaceleração são estimulados em diferentes direcções, bem como períodos programados de repouso entre exercícios (Football Medicine, 2015). O treinador tem o conhecimento dos exercícios que pretende aplicar para trabalhar aspectos relativos à componente técnico-táctica, e o preparador físico (bem como outros profissionais) veio ajudar na periodização e planeamento do treino a curto, médio e longo prazo ao longo da época desportiva, tendo em vista a optimização do rendimento desportivo.
Nos escalões de formação, todos sabemos que muitos dos treinadores são pessoas com imensa vontade e por vezes muita experiência de jogo e de treino, mas que têm pouca formação técnica na área do planeamento e do treino de capacidades físicas específicas (como a força, a velocidade, a agilidade e a rapidez). No que respeita ao futebol de formação pretende-se, precisamente, formar jovens atletas para as equipas séniores dos seus clubes, mas não devemos esquecer da (muito) importante componente formativa enquanto pessoa (intelectual, social, moral e de carácter), e ainda da manutenção e promoção de saúde através do desporto.
Por estes motivos, e considerando as elevadas exigências que hoje em dia se conhecem ao desporto rei em todo o mundo, torna-se cada vez mais pertinente que os treinadores se rodeiem de uma equipa técnica da sua confiança, com conhecimentos que complementem as suas lacunas e potenciem os seus pontos fortes enquanto líderes da sua equipa, mesmo no contexto do futebol de formação.
Para terminar este breve artigo, lanço-lhe a seguinte pergunta: ainda coloca os seus jogadores a correr à volta do campo?
De acordo com a Football Medicine (2015), sendo o futebol uma modalidade em que são exigidos esforços intermitentes, a corrida contínua não replica as necessidades desportivas metabólicas e específicas do ponto de vista muscular. O futebol exige acelerações e desacelerações repetidas, esforços em velocidade máxima e com mudanças de direcção.
Se ficou com dúvidas (confesso que espero que tenha ficado) procure um profissional da área do exercício, com competências nesta área, para o ajudar.
Sara Costa, fisioterapeuta
Referências.
Antunes, F. (2016). Da iniciação à alta competição: formação integral do futebolista. Disponível on-line: https://www.futeboldeformacao.pt/2016/02/29/da-iniciacao-a-alta-competicao-formacao-integral-do-futebolista/. Consulta em: 02/07/2017.
Football Medicine, (2015). Football Medicine and training methodology. Part I: Are you still running around the pitch? Disponível online: http://footballmedicine.net/training-methodology/. Consulta em: 02/07/2017.
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