Violência.

Implícita e explícita, tentada e concretizada, prometida e cobrada.

Usurpo da feliz denominação da “iniciativa governamental” para dar titulo a uma manifestação de vergonha alheia no dia em que uma deputada da república anunciou que:

“- É tempo do Governo ter uma palavra no futebol.”

Como se o futebol fosse um mundo à parte do desporto! Como se o futebol fosse um fenómeno associal! Como se a política nada tivesse que ver com o futebol! Como se estes dois mundos não se cruzassem em eleições partidárias “protegidas” por claques de futebol ou nos caciques partidários que ajudam a eleger presidentes de clubes.

Nem cegos surdos e mudos conseguiríamos andar por esta terra sem tropeçar nos piores exemplos e nas mais reprováveis práticas. Mas os nossos representantes parecem ter conseguido… até hoje. O que terá acontecido?

O exemplo vem de cima e o homos fanaticus sente legitimada a libertação do “macaco” que o habita.

O pai não trabalha para levar o filho aos treinos. Este tem de treinar para um dia vir a trabalhar para que assim ganhe tanto para que o pai nunca mais tenha de trabalhar.

O árbitro apita por que não havia mais ninguém com vontade para apitar. Enfiaram um apito na boca do miúdo e obrigaram-no a ser insultado, cuspido e agredido fim-de-semana sim, fim-de-semana sim. Seria mais fácil converte-lo à castração seminarista do que torná-lo num agente positivo do desporto. A humilhação enche a barriga mas não fortalece o carácter.

O dirigente compra o estatuto com o saco das notas que lhe alcatifa a limusine. O clube lava mais branco. “Vende” umas quantas contrações ao adicto em ilusões que paga a quota, e enquanto o jogador vai e volta o agente forra o bolso.

O comentador… comenta. Nunca deu um chuto na bola, mas chuta sentenças como um juiz de linha zarolho, ou um outro juiz mais “desembargado”.

O atleta é o melhor do jogo, mesmo que ameaçado pelo Dopping e pelo match fixing.

O treinador é um sonhador que enquanto sonha ensina. Até ao dia em que o sonho é sacrificado por todos os sacrifícios por que passou na perseguição do sonho.

Estes são os nossos modelos.

Estes são os referentes que, ao dia de hoje, os nossos filhos encontram se assistirem ao bloco desportivo de um qualquer serviço noticioso.

Do esforço e da superação. Do cumprimento das regras e das leis. Do salutar respeito pelo adversário. Da necessidade de aceitação da derrota como uma consequência necessária para quem persegue a vitória. Do sentido de pertença a uma coisa maior nos planos mural e ético.  Tudo isto, e das demais virtudes decorrentes da prática desportiva, a diária verborreia mediática conspurca. Seja ela pintalgada de azul, verde, ou encarnado.

O Desporto português caminha a passos largos para o seu momento Pedrogão Grande.

Perguntarão mais tarde se a nossa “Proteção Civil” desportiva fez tudo o que podia ter sido feito para evitar o desastre anunciado.

Haverão de encontrar entre os destroços uma ténue prova da existência de um “Gabinete” tripulado por dois técnicos, financiado por três patacos, que distribuía meia dúzia de medalhas e subsidiava sombrias tipografias com encomendas risíveis de trípticos feitos para não serem lidos.

Para a “estatística” da burocracia europeia Portugal tem um “Plano Nacional de Ética no Desporto”. Para os nossos jovens, para os atletas e para a população em geral, temos os “diretores de comunicação” dos “três grandes”.

Formar atletas é formar públicos para o desporto. Para a celebração das vitórias e para a aceitação das derrotas. Investir no Desporto é investir na Democracia. Mas num país em que a educação física é a bastarda de uma escola pobre, cada vez mais parca de vivência cívica, e o PNED é a prateleira onde o IPDJ arruma os técnicos em contra-ciclo…

Senhores deputados, por estes “preço” queriam o quê?!

*“Denomina-se de Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED). Representa uma iniciativa governamental e está sediado no Instituto Português do Desporto e Juventude, I. P.. Dentro desta entidade é dinamizado pelo Gabinete de Coordenação do PNED.

O PNED é um conjunto de iniciativas estruturadas e planificadas, que visam divulgar e promover a vivência dos valores éticos inerentes à prática desportiva como a verdade, o respeito, a responsabilidade, a amizade, a cooperação, entre muitos outros.

Valores, estes, que se pretende que sejam assimilados e vividos na prática desportiva.” @ pned.pt

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