Prática desportiva vs Formação Académica


Quem nunca ouviu um jovem atleta dizer que quer ser jogador de futebol profissional? Quem nunca ouviu um filho/aluno/colega a dizer que não precisa de estudar porque vai ser jogador de futebol? Quem nunca sonhou ser jogador de futebol? Quantos conseguiram realmente ser jogadores de futebol?
Arrisco-me a dizer que todos os treinadores de futebol de formação já ouviram pelo menos um atleta seu dizer: “O meu sonho é ser jogador de futebol”. Faz parte do sonho de qualquer criança que pratique esta modalidade, assim como acredito que faça parte do sonho de qualquer criança que pratique outra qualquer modalidade querer ser profissional da mesma.
Será então possível conciliar a prática deste desporto, seja ela profissional ou não, com os estudos?

Todos os nossos sonhos podem-se realizar, se tivermos a coragem de persegui-los” Walt Disney, s.d

“Diversos estudos mostram que as escolas que oferecem intensos programas de Atividade Física promovem o sucesso académico das crianças e jovens, com aumento da concentração, melhoria da interpretação oral e escrita e de cálculos matemáticos, bem como com um aumento dos níveis das funções mental e de aprendizagem.” (G.S.Carvalho., 2011)
Tendo em consideração a bibliografia disponibilizada sobre a influência do exercício físico no rendimento escolar, podemos considerar que a prática regular de exercício físico poderá trazer benefícios acrescidos na formação académica. No entanto, é também muito comum ver-se alguns encarregados de educação castigarem os seus educandos pelos maus resultados escolares com a suspensão da prática futebolística.
Indo de encontro ao que já foi anteriormente referido, não estaremos perante uma antítese? Se está provado cientificamente que a prática regular de exercício físico auxilia na obtenção de melhores resultados, será esta a causa para o não sucesso escolar? Não seria mais benéfico retirar a playstation, por exemplo, em vez que proibir o atleta de ir ao treino?

Todos os agentes envolvidos no “mundo” do futebol, sejam eles as crianças que sonham ser jogadores de futebol, sejam pais, sejam treinadores, ser-lhes-á familiar nomes como Tarantini (Rio Ave), Robert Lewandowski (Bayern Munique), Giorgio Chiellini (Juventus), Juan Manuel Mata (Manchester United) ou Andrés Iniesta (ex-Barcelona). Todos eles, para além de terem em comum a mesma profissão, contam também, no seu currículo, com estudos superiores (licenciaturas, mestrados ou doutoramentos). Importa então reforçar a ideia de que é possível ser jogador de futebol e ainda dar continuidade à formação académica.

Aliás, numa perspetiva mais pessoal, e tentando centrar o tema no futebol de formação, é importante percebermos que infelizmente (ou felizmente, dependendo da perspetiva), nem todas as crianças conseguirão atingir o sonho de serem futebolistas profissionais. Alguns estudos apontam que 1 em cada 10 consegue fazer do futebol a sua profissão. Então, tendo em conta estes fatores, não será importante repensar as metodologias de treino apresentadas? Não será importante centrar grande parte das decisões/ações dos treinadores na transmissão de valores pessoais? Trata-se, então, de valores pessoais e humanos, porque independentemente da criança/jovem conseguir vir a tornar-se futebolista, estará ela, também, inserida numa sociedade cada vez mais competente e exigente. Uma sociedade cada vez mais desenvolvida em todas as suas dimensões.
Neste caso, e voltando à minha opinião pessoal, considero que quando um atleta começa a praticar uma modalidade, terá como objetivo, um dia, tornar-se profissional dessa modalidade, no entanto, e uma vez que se trata de uma pequena percentagem aqueles que o conseguem fazer, a formação de jovens atletas deverá estar maioritariamente centrada na transmissão de valores sociais, humanos e pessoais para posteriormente, facilitar a inserção destes jovens na sociedade comum.

Em entrevista ao Notícias Magazine, Tarantini refere que “…nem todos têm de seguir essa via (académica), o importante é que se qualifiquem para que, quando o percurso desportivo terminar, possam ser capazes de enfrentar o mercado de trabalho em igualdade com as outras pessoas. O futebol é uma bolha, e saindo fora dessa bolha, as coisas não são iguais.”

Com este artigo de opinião não pretendo referir que todos os jovens/atletas têm que se focar apenas nos estudos e esquecer a prática desportiva, ou vice-versa. Pretendo com este artigo elucidar todos os intervenientes, sejam eles pais, treinadores, diretores, coordenadores ou os próprios atletas de que é possível conciliar ambos e obter resultados positivos em ambos. Claro está que será preciso muita vontade, empenho e, acima de tudo, organização nos horários.

Numa carreira que termina em média aos 30,9 anos, apenas 16% dos futebolistas portugueses chegam ao principal escalão do futebol nacional, a I Liga. E mais de 95 por cento nunca chegam a usar a camisola de qualquer clube grande ao longo da carreira.

Numa análise global a tudo o que foi suprarreferido, não estará aqui, mais uma vez eminente o papel fundamental que a escola desempenha na formação pessoal e profissional? Não será altura de repensar as metodologias de treino aplicadas, sobretudo, nos escalões mais jovens do futebol de formação?

Não confunda derrotas com fracasso nem vitórias com sucesso. Na vida de um campeão sempre haverá algumas derrotas, assim como na vida de um perdedor sempre haverá vitórias. A diferença é que, enquanto os campeões crescem nas derrotas, os perdedores se acomodam nas vitórias.” Roberto Shinyashiki, s.d

 

Referências Bibliográficas

  1. Pereira & G.S.Carvalho (Coord.) (2011) Atas do VII Seminário Internacional de Educação Física, Lazer e Saúde: A atividade física promotora de saúde e desenvolvimento pessoal e social. CIEC, Instituto de Educação, Universidade do Minho: pp. 1363-1383.

Notícias Magazine. (s.d). O que acontece aos futebolistas depois de pendurarem as chuteiras? https://www.noticiasmagazine.pt/2017/o-que-acontece-aos-futebolistas-depois-de-pendurarem-as-chuteiras/historias/25371/

 

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