O Futsal, e o Desporto em geral, atravessa um período daquilo que se pode chamar de “sobrecarga de informação”. Vivemos numa época onde a informação que pretendemos se encontra à distância de um ecrã ou de um clique. Existe muita informação disponível, por vezes até demasiada, e, no meio de toda essa informação que nos chega através do desporto profissional e dos técnicos profissionais da área, os amadores acabam perdidos ou com o sentimento que estão deslocados do seu meio, tentando aproveitar tudo sem acabar por, efetivamente, beneficiar de algo.

Os mesmos amadores que, alguns, ainda continuam com os seus dois treinos semanais no pavilhão que é partilhado por mais meia dúzia de equipas e modalidades e que obriga a uma diminuição do volume da unidade de treino; que continuam com meia dúzia de bolas no treino e que obriga o treinador a fazer ‘ginástica’ em adaptar tudo o que se pretende fazer em função disso; do material rudimental e gasto em que é impossível investir ou substituir; por vezes a ter que ir treinar e jogar em transportes próprios porque o clube não fornece, não porque não quer mas porque não tem essa capacidade.

Num mundo desportivo e numa realidade em que em vez de se lucrar com a modalidade que amamos e à qual sentimos uma paixão que não desaparece, ainda acabamos por perder porque persistimos e nos recusamos a lançar a toalha ao chão. O mundo desportivo é uma ilusão à sombra do profissionalismo, com um determinado grupo de pessoas que sonha e continua a aspirar a algo mais, os voluntários, os corajosos, os idiotas…

Mas como conseguir lá chegar, numa realidade tão competitiva e tão seletiva como é o mundo do Desporto, em que se precisa de não apenas ser o melhor mas continuar a sê-lo e a demonstra-lo todos os dias?

A resposta a essa questão obriga-me a considerar outra. Será então benéfico numa realidade tão difícil e tão competitiva almejar chegar ao topo através da formação e do aproveitamento e recolha de informação? Como fazê-lo, e, acima de tudo, como explorar a inovação desportiva em função da nossa realidade e em favor dos nossos objetivos?

Antes de mais será necessária muita paciência e, acima de tudo, persistência. Não basta querer ser campeão, ou dizê-lo em voz alta até que se interiorize na nossa cabeça. É necessário fazer mais que apenas acreditar e sonhar, é preciso fazer. É preciso o triplo do esforço, o triplo do empenho e o triplo da dedicação, não apenas ao treino, não apenas à equipa que luta connosco diariamente mas também ao clube que se representa. O amor à camisola, o orgulho de representar os nossos. E é aqui que entra a paciência em equação, não apenas do atleta mas principalmente do staff técnico que deve não apenas debitar informação e esperar que cole, mas que deve formar antes de mais.

Quando se adiciona o fator “equipa técnica” soma-se mais uma variante na nossa equação. Muito se fala e debate na questão da formação de atletas e a formatação dos mesmos em função do que o treinador pretende, mas também do tempo que se despende no processo e, acima de tudo, no custo que tal realidade acarreta porque formar atletas não é o mesmo que ir buscar os melhores da cidade, do distrito ou da região e fazer uma pequena seleção que nos garanta resultados a curto prazo.

Formar é bem mais que isso, é pegarmos num atleta, qualquer um, seja bom ou mau, e transmitirmos-lhes não apenas o que é o Futsal mas como viver o Futsal porque o Futsal não se impinge, ele sente-se e vive-se com a emoção à flor da pele e o coração a explodir-nos do peito a cada lance. Não apenas ensinar a paralela ou a diagonal, mas a euforia a cada defesa do guarda-redes ou o remate sem hipótese do pivot. Não apenas ensinar a marcação e abordagem a cada lance mas sim transmitir a importância de ganhar os importantes segundos na contenção até o colega de equipa chegar e ajudar na defesa. Isto é formar. Não apenas jogadores mas desportistas. Formar não porque queremos ganhar a todo o custo num escalão ou temporada específica mas porque o pretendemos fazer com consciência, equilíbrio e regularidade assentes em bases como a união, empenho e humildade.

E, acima de tudo, preparar cada atleta para fazer o seu percurso sem o limitar num certo sistema de jogo, ou num certo modelo preparado pelo treinador, porque um dia o rumo pode alterar e caso isso aconteça o atleta terá que estar preparado para jogar não apenas na equipa A ou B com o treinador que utiliza o tipo de jogo C ou D, mas para jogar em qualquer equipa com o estilo de jogo de qualquer treinador. Isto é formar. Não apenas incutir os nossos ideais mas sim os da modalidade, bem com as suas regras e bases. E a nossa modalidade tem tanto para se transmitir…

Por fim acrescentamos o último fator neste processo que é a formação de um atleta, a informação, e que me leva ao ponto-chave deste texto: como escolher e aproveitar a informação e dados recolhidos sobre os jogadores em proveito desses mesmos jogadores?

Ouvimos falar constantemente em análise e estatística de jogo, em média de recuperações ou perdas de bola num jogo, no rácio de sucesso dos duelos que cada jogador enfrenta ao longo do jogo, dos remates, passes, quilómetros percorridos e percentagem de sprint ou velocidade que foram empregues nesses quilómetros. É demasiado. Por vezes, talvez, até excessivo. Mas será mesmo? Devemos despejar a informação ao atleta e esperar que se sinta reconfortado por ter informação que pode comparar com os seus colegas? Ou devemos selecionar, filtrar e transmitir a informação que realmente importa ao atleta para o seu desenvolvimento enquanto jogador e pessoa?

Não importa, por exemplo, se um jogador faz 30 recuperações de bola se no instante imediato a fazê-lo acaba por perder a posse de bola com um drible imprudente. Nem importa contabilizar a quantidade de passes corretos que faz durante o jogo se a única coisa que faz é passar para o lado ou para trás. Mais que recolher informação é necessário saber distinguir o que realmente importa para a equipa técnica e para o atleta para que ambos consigam aproveitar essa informação em prol do desempenho do atleta e não numa perspetiva de sobrecarga de informação que fará com que o atleta fique mais preocupado, e agora banalizando, em acertar passes do que em jogar à bola porque considera importante ter um 100% de eficácia de passe.

O atleta tem que saber, acima de tudo, a dinâmica da modalidade que pratica. Deve aprender a importância de quando e para onde fazer o passe; do porquê e do para onde se deve movimentar após fazer o passe ou quando não tem a bola; de saber distinguir a importância dos timings e momentos em que deve ou não tentar o drible e com que objetivos…

Há muito que se diga no que diz respeito a formação de atletas. Aqui fica uma pequena reflexão geral e pessoal em relação ao tema.

1 Comentário

  1. José Júlio
    22 Novembro, 2018
    Responder

    Infelizmente em Viseu já ha muito que se trabalha em meio campo no fut de 7 e no futebol de 11, mesmo em em escalões a disputar os nacionais.

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