É inquestionável que os pais têm uma importância fundamental no crescimento do jogador jovem. Também não há dúvidas que ao longo da formação desportiva, os pais podem e devem acompanhar os seus filhos nos momentos altos e baixos que todo o processo de formação desportiva envolve.

Das vitórias às derrotas, do golo falhado ao golo marcado, da titularidade à ausência na convocatória, são os pais que muitas vezes são confrontados com as consequências dos acontecimentos anteriormente referidos e são também eles que têm que gerir expectativas nos momentos de alegria e tristeza, de frustração e prepotência, de altruísmo e egoísmo.

Por sua vez, os clubes, na sua globalidade promovem o desporto de formação como um meio para adquirir competências específicas da modalidade e valores que pretendem que sejam “para o resto da vida”.

Mas quando a bola começa a rolar, muitas vezes, falta coerência entre o discurso e o percurso de ambas as partes ao longo do processo de formação comprometendo a evolução do jovem desportista na sua globalidade (como jogador e como futuro adulto inserido na sociedade).

Mas se ambos (pais e clube/treinador) pretendem o melhor para a formação do jovem desportista e se existe de ambas as partes uma grande preocupação ao longo do processo de ensino desportivo, qual é o motivo para que este conflito tão frequente entre pais e clube/treinadores se verifique? Porque é que não se verifica uma maior e melhor colaboração entre as partes?

Parece-me que a questão está na definição dos limites de cada uma das partes e na forma como essa informação é transmitida no inicio de cada época desportiva. É um facto que existem vários tipos de pais e que temos muitos clubes a trabalhar com preocupações e caminhos diferenciados para chegar ao mesmo fim: a formação desportiva do jovem jogador. No entanto sentimos muitas vezes incompatibilidade entre o que o clube pretende e o que os pais pretendem. Porquê?

A existência de um regulamento interno com definição de valores e filosofia do clube e do Treinador permite caracterizar o contexto em que o jovem desportista vai crescer e permite definir também:

  1. – Regras de funcionamento e organização do grupo;
  2. – Expectativas do Treinador em relação aos jogadores / equipa;
  3. – Calendarização da época, local e os horários de treinos e jogos;
  4. – Regras de participação na equipa (n.º de treinos semanais, equipamento, atividades nas férias, compromissos e consequências da quebra das regras estipuladas); Direitos e deveres de pais e jogadores.

Uma definição clara e coerente dos direitos e deveres deste triângulo Pai – Jogador – Clube vão permitir uma maior e melhor compreensão e cooperação de ambas as partes solidificando a dinâmica existente no grupo e minimizando o desgaste normal da época desportiva com atritos que muitas vezes surgem devido a uma inexistente (ou insuficiente) definição de limites de intervenção ao longo do processo de ensino da modalidade.

Não definir funções e limites de intervenção pode gerar conflitos, pode influenciar negativamente o rendimento alterando mesmo a dinâmica de jogo da própria equipa.

O treinador deve tomar decisões em função do potencial do jogador, e dos objectivos do clube para o jogador (e para a equipa) e não se deve preocupar em gerir o tempo de utilização no jogo de cada jogador ou a estratégia da equipa para agradar aos pais.

Os pais devem ir ver os jogos, apoiar (reforço positivo), respeitar as regras e dar o exemplo, ao invés de criar expectativas elevadas sobre os filhos, forçar a prática desportiva ou tecer comentários negativos sobre outros jogadores, outros pais, árbitros e treinadores.

O clube deve definir o caminho e os limites para pais, jogadores e treinadores. Os pais, “jogando” dentro destes limites contribuem (indirectamente) na dinâmica global da equipa e permitem que jogadores e treinadores se foquem naquilo que mais gostam, os momentos do jogo.

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