A FIFA terá sido a primeira instituição a perceber que, no futebol, controlando os meandros do mesmo, se podiam fazer fortunas. Sendo quem mandava no futebol, a FIFA tratou de criar o seu esquema – ou esquemas – de controlar tudo e todos, fazendo circular dinheiro para todos os lados, gerindo os favores conforme convinha e até prometendo vitórias em competições. Tudo isto dava dinheiro à própria FIFA.

A partir daí, a bolha foi crescendo e rapidamente a UEFA tratou de ir buscar o seu quinhão. Vendiam-se espaços de publicidade a milhões de euros, mudaram-se figurinos de competições europeias de modo a abraçar mais clubes de países ricos. O importante era ter os grandes clubes, todos os anos, a jogar a Liga dos Campeões, tudo em prol de um suposto aumento do espectáculo e do aumento da competitividade.

Como os prémios eram cada vez maiores e as audiências subiam exponencialmente, os clubes logo quiseram buscar o seu. Chegar mais longe na competição dava dinheiro e começava a pensar-se mais no dinheiro que nos títulos… embora a bandeira seja sempre essa, claro.

O futebol começou, ou melhor, continuou a movimentar milhões e milhões, as transferências começaram a escalar no que aos valores movimentados diz respeito e logo apareceram empresários, agentes e, mais tarde, Fundos a fundo perdido. O futebol, agora, é das áreas que mais dinheiro mexe ao ano e uma das poucas que, aparentemente, não tem crise…. Só o resto do Mundo vive uma realidade à parte.

Todos os anos se batem recordes de transferências. Fala-se de 100 ou 200 milhões com a simplicidade de quem compra uma laranja. Os contratos de transmissão televisiva custam muitos milhões – em Inglaterra pagou-se cerca de 7000 milhões pelos direitos de transmissão da BPL de 3 épocas. Toda a gente ganha… ou quase toda a gente.

Há uma década, apenas 5% dos jogadores profissionais de futebol conseguia chegar ao fim da carreira com a vida orientada. O resto teria que fazer qualquer coisa, profissionalmente. Hoje, presumo, a percentagem não estará muito diferente. O que difere, e muito, é o valor que esses 5% agora recebem.

Se nas décadas de 80 e 90 do século passado, o sonho de um jovem era ser jogador de futebol e chegar a vestir a camisola do clube do coração, jogando ao lado de um Balakov, um Domingos ou um Chalana, hoje o objectivo – caiu o sonho? – é ser profissional de futebol e ganhar dinheiro.

Se naquela altura os pais queriam que os jogadores se divertissem, hoje querem que os atletas tenham comportamentos de profissional… aos 12, 13 ou 14 anos, já os pais dizem para os atletas – os filhos – pensarem que precisam fazer assim ou assado para poderem chegar a profissionais.

Se antigamente se poderia pensar, sendo jovem, que se iria fazer a carreira no Benfica, Porto ou Sporting, conquistando o campeonato e, talvez quem sabe, uma competição europeia e, pelo meio, chegar à selecção, hoje o objectivo é chegar a um clube lá fora, que até pode ser de média dimensão, porque paga mais… os títulos caíram para segundo lugar nos sonhos dos jogadores. Agora, são apenas profissionais. Não têm sonhos, têm objectivos.

Só que estes, os jogadores, são mesmo os que recebem menos dos muitos e muitos milhões que o futebol movimenta. Quem gravita à sua volta, do futebol no geral e dos jogadores em particular, tudo faz para ganhar muito dinheiro… se for com títulos, melhor, mas se não for… conta o dinheiro. A pressão para se ganhar dinheiro é de tal ordem que, neste momento, há jogadores que não têm sequer voto quanto ao clube onde vão jogar na época seguinte. Vão e ponto. São parte do negócio. Já não são meros jogadores ou atletas, são activos que é preciso rentabilizar e se, para isso, for preciso por em causa a parte desportiva, põe-se. Paciência. O activo é pago para isso mesmo. É mercadoria nas mãos de quem manda no futebol.

Os Valores do futebol – acabou a bola – mudaram e, aparentemente, apenas uma parte dos adeptos se preocupa com o deporto, com vencer com justiça, com ver bons espectáculos, em torcer pela qualidade em vez de apenas pelo clube. São estes adeptos, esta cada vez mais pequena parte, que são afastados dos estádios e do desporto que adoram porque o mundo do futebol hoje vê mais dinheiro que desporto. Os horários dos jogos, pelo menos em Portugal, estão altamente dependentes da televisão e do dinheiro que esta dá, quando deveria pensar no adepto – jogos às 21 horas de domingo?!. Chegamos a alterar datas e horários a pensar no El Classico ou no Derby de Manchester. Dinheiro a quanto obrigas.

Os Valores vão mudando e, arrisco dizer, rapidamente se irão perder por completo. Até que a bolha do dinheiro estoire um dia – lembro-me várias vezes do subprime e das dotcom – porque, um dia, a bolha vai mesmo estoirar.

É indispensável trazer de volta o prazer de jogar à bola. O Futebol vai agradecer… um dia.

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