Era um jogo, competitivo é certo, mas não deixava de ser mais um jogo.

Os pais na bancada aplaudiam e incentivavam perante o perfilar das equipas.

Nervos à flor da pele! Uma das equipas está stressada e a outra diverte-se e aguarda serenamente o ínicio do jogo.

Quem é quem e porquê?

Uma equipa vê o jogo como uma competição ofuscada, é a stressada (espírito conquistador e guerrilheiro); a outra, encara o jogo como uma competição, mas de forma lúdica (paciente). Sim, a stressada é aquela que compete ferozmente pela vitória e a lúdica é aquela que irá tentar fazer o seu melhor.

O jogo começa e o “Stress” cai logo em cima da “paciência”. Os movimentos rápidos e intensivos subrepoêm-se à tentativa de organização da “Paciência”.

O “Stress” discute pela ausência do passe ou pela perda de bola. A “Paciência” vai tentando ocupar os espaços para que o “Stress” não os ocupe e do banco e das bancadas vêm as palavras de incentivo.

O “stress” recebe críticas do banco e da bancada, porque não está a conseguir entrar nas linhas defensivas da “Paciência”. Os nervos do “Stress” crescem a cada minuto que passa e o banco intensifica esse nervosismo pois avisa que está na hora de explodirem. Na bancada, os ânimos começam a ficar impacientes e as palavras soltam-se…

O banco da “Paciência”, percebendo que algo de menos agradável vai acontecer, mexe. Quer a base focada e concentrada para a capacidade de algo mais e, mexendo, assume a culpa da maior fragilidade criada. Não é só aquele jogo que interessa, é o bem estar da equipa nos treinos, do dia à dia. Na bancada, abanam a cabeça negativamente, mas num murmúrio silencioso.

Eis que a bola finalmente passa a linha de golo. O “Stress” grita, salta e gesticula, por vezes erradamente, demonstrando o seu poder. O banco é quem mais salta e a bancada pede mais massacre…

A “Paciência” não baixa a cabeça, tenta reencontrar-se e continuar aquela batalha inglória, cujo fim já o conhece. Falam, apoiam-se, tocam-se e colocam novamente a bola a meio para que possam continuar a fazer o que mais gostam. Do banco vêm mais incentivos positivos e na bancada continua-se a aplaudir.

E entra mais uma, e outra, e outra… Parece não ter fim. Eis que termina rapidamente, erguem-se as cabeças. Correu mal, é certo, mas não é o fim do mundo, era apenas um jogo de futebol.

Rapidamente se reúnem em grupo, de braços dados, e as palavras soltam-se de quem tem a responsabilidade de formar:

Correu mal, é verdade, mas a culpa não é vossa, é toda minha. Fizeram o que deviam, mas há dias assim, nada corre bem. Gostei muito da vossa atitude. Nunca desistiram, tentaram sempre fazer o melhor, mas o mais importante acima de tudo foi ter-vos visto a não perder a vossa postura, o vosso Fair play. Fizeram imensas jogadas bem delineadas conforme o fazem nos treinos e assim a continuarem, rapidamente retomam aos resultados que desejam. (Um dos grandes desafios que os Formadores encontram na hora de executar os treinos é a questão competitiva, pois vive-se numa cultura que valoriza sempre mais a vitória e o vitorioso e, dessa maneira, pode-se perder o enfoque no lúdico.)

De volta aos treinos. Todos aparecem, ninguém falta e a vontade de melhorar é imensa. (É a intensidade e a fascinação do jogo que residem as características fundamentais do jogo. O prazer que provoca cria essa necessidade de querer sempre mais.) Sabem que serão bem recebidos e as instruções e reflexões não são para recriminar, mas para corrigir. Todos têm a palavra e, sem cobranças, compreendem que o mais importante é trabalhar e acreditar. (O formador ensinar a ganhar e a perder, esta aprendizagem pode proporcionar o desenvolvimento de habilidades pessoais enriquecedoras para a vida, como lidar com o fracasso, com a frustração, com a vitória e com o sucesso.)

De novo domingo. Outro jogo. Agora em casa, diante dos pais, familiares, amigos e simpatizantes, é hora de mostrar que ser-se paciente tem os seus frutos… A “Paciência” defronta uma outra “Paciência”, mas como a da casa anteriormente saiu de cabeça erguida no confronto contra o “Stress”, o resultado não podia ser outro. A vitória surgiu.

Porquê terá terminado assim?

Devido aos valores de formação adquiridos, união e sentimento de amizade em todo o grupo – diria eu!

Outras derrotas irão surgir e outras vitórias as irão superar…!

O alto rendimento competitivo é um modelo desportivo cuja prática é rigidamente determinada pelas regras técnicas e tácitas. A busca feroz e a ansiedade pela vitória pode fazer perder a singularidade do ato e o fim da prática desportiva para muitos atletas durante as suas etapas da formação.

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