Num jogo de futsal infantil, uma criança comete uma falta que não é assinalada pelo árbitro mas que a impele a pedir desculpa ao seu adversário e a informar o árbitro da infracção. Nos dias que correm, isto é um  acontecimento, eventual capa de jornal. Pode, inclusivamente, tornar-se num post viral nas redes sociais, como acontece a tudo o que é inédito ou pouco “normal”.

Este comportamento é exemplar e enquadra-se perfeitamente no conjunto de valores que o desporto defende e que o regem. Situações como esta deveriam ser recorrentes, mas são, cada vez mais, acontecimentos que merecem destaque por serem tão inéditos.

Sempre defendemos e defenderemos que as crianças transportam na sua ingenuidade os muitos e bons valores que o desporto defende. É, contudo, necessário que os desenvolvam, através da prática – e são os adultos que as fazem perder ou não aplicar estes valores.

E porque é que isto acontece? O contexto em que muitas crianças se vêem inseridas, do querer ganhar constante e do “vale tudo” por parte de pais e treinadores, deixa-as confusas numa situação como a referida acima. Uma situação em que têm de fazer uma escolha entre serem elas, serem justas ou serem aquilo que as obrigam a ser, ou seja, fazer tudo para ganhar.

Fazendo o que o seu instinto lhes dita, serão, possivelmente, repreendidas por pais e treinadores e, eventualmente, substituídas. Seguindo o que lhes é pedido ficam mal consigo mesmas. E é este conflito interno que as pode fazer querer deixar o futsal.

O grande problema que talvez leve muitas pessoas a questionarem o desporto como uma escola de valores, podem ser os contextos desadequados que invertem, em muitas situações, os valores que o desporto defende. Por maior que seja a ambição – legítima seja em que idade for – de ganhar, a verdade é que qualquer jogo tem regras e valores associados das quais advêm os benefícios do fenómeno desportivo. Querer ganhar é legitimo, desde que cumprindo as regras.

Ninguém coloca em causa as mais valias associadas aos valores desportivos, simplesmente há quem precise de conseguir algo a qualquer custo e os valores, nessa altura, podem atrapalhar. A nossa opinião é radical: isto é crime.

Falamos de crianças, em fases de ensino/aprendizagem/formação críticas. É nestas idades que temos de começar a mudar, caso contrário o futuro será pior que o presente. Antes de acharmos que as crianças não têm nos profissionais bons exemplos, – motivo que muitas vezes serve de desculpa -, a verdade é que elas, muitas vezes, não têm sequer quem as ensine ou as eduque corretamente.

Nenhum pai, nenhum ser humano se transforma no desporto, simplesmente revela-se.

O desporto, como qualquer outra atividade, tem na sua essência um conjunto de valores que devem ser respeitados por quem o pratica desporto (como acontece com qualquer outra atividade). Atualmente, nos noticiários, vemos inúmeras de notícias de pessoas que, no exercício da sua função, esqueceram os valores e estão sujeitos a julgamentos por crimes cometidos.

Apontar o desporto como a causa do problema de uma sociedade, é querer esconder que a sociedade pode não estar é preparada para viver um fenómeno tão grande, tão nobre e fantástico como é o desporto e não estar preparada pode muito bem ser não ter valores.

Mais do que arranjar desculpas há que agir. No STF (Somos Todos Futsal) pegamos sempre nos jogos de crianças porque queremos acreditar que o futuro vai ser melhor se as aproveitarmos com todas as suas capacidades.

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