Educar o Sonho


Ilustração de Paulo Medeiros ©

O “triângulo desportivo” formado pelo treinador, pelo jovem e pelos pais é uma componente natural da atividade desportiva juvenil. Deste modo, atendendo a que esta relação é inevitável, o papel do treinador no relacionamento com os pais torna-se, como tal, de enorme importância para o êxito da sua função.

Em muitos casos, infelizmente, os seus comportamentos e os seus desejos pessoais podem contribuir de forma significativa para o insucesso da formação do jovem atleta. É por demais evidente que os problemas da formação desportiva não são nem as crianças, nem os jovens, mas sim alguns adultos, quer sejam pais, treinadores, árbitros ou dirigentes.

É legítimo questionar por que motivo o mesmo jovem com determinados treinadores nunca tem questões comportamentais e com outros o que não falta são problemas?! Já todos presenciámos treinadores zangados, com os seus e os outros atletas, com os seus colegas, aos berros, aos insultos, etc. Antes de mais, é preciso afirmar que o treinador é um professor/formador dos jovens praticantes. No desempenho desta função, tem de ter um comportamento exemplar e uma intervenção positiva, por oposição a uma via negativa de influenciar o comportamento do atleta.

Neste final de época assistimos a comemorações de títulos com os pais a invadirem o campo – com que direito?! – a abraçarem-se, saltarem, saudarem-se e as crianças atletas no papel de observadoras. Os pais devem permanecer nas bancadas aplaudindo e deixando os atletas festejarem as suas conquistas. Mas quem são os vencedores do campeonato/torneio infantil?! Os adultos?! Não se entende que tudo seja permitido e que os próprios treinadores se esqueçam dos seus atletas e pactuem com estas situações. Ver pais dentro do campo a receberem faixas de campeão? Quem promove estas situações? Porquê? Quem as autoriza? O campo é reservado a agentes credenciados pelas Associações ou Federações: Árbitros, Dirigentes, médicos, massagistas, atletas e treinadores.

Existem acusações frequentes, e muitas acertadas, sobre o comportamento dos pais na prática desportiva dos filhos, mas quando ocorrem incidentes graves, a responsabilidade é de todos. A promiscuidade existente, muitas vezes, entre treinadores e pais potencializa esses incidentes. A manipulação de pais por parte de alguns treinadores de forma a conseguirem “roubar” os atletas para os seus clubes tem, quase, sempre um preço alto a pagar.

A criança tem direito, tem necessidade, de sonhar. O seu crescimento implica várias fases e o sonho deve estar sempre presente no seu desenvolvimento. Cabe aos adultos educar esse sonho. Não se deve cortar nem criar expectativas elevadas que não estão ao alcance de todas. E deixem de “expulsar” os atletas do campo para viverem com euforia um momento que é deles. Eduquem o sonho sem cair na tentação de o usurpar.

Texto de Vítor Santos ©

Ilustração de Paulo Medeiros ©

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