No seguimento do tema abordado pela Federação Portuguesa de Futebol sobre o comportamento dos pais (e também de outros agentes) no futebol, considerei que poderia escrever um pouco acerca do “#deixa jogar” e sobre que impacto os pais de jogadores deste país podem ter na vertente do rendimento do jovem e principalmente no bem-estar do mesmo.

Antes de começar, é importante citar uma pessoa que muito fez para a promoção do futebol jovem em Portugal: o Sr. Aurélio Pereira. Há umas semanas, falou sobre o comportamento dos pais de atletas de futebol e fez referência para o fato de “Pais que querem ser os futuros Jorge Mendes e querem que os filhos sejam os futuros Cristianos Ronaldos”.

Na minha experiência profissional, dentro da área psicológica do jogo, já realizei formações com pais de atletas de várias faixas etárias, vários objetivos e em vários contextos, estando uns ainda a aprender a gostar de jogar e outros já em fase de formação.

Falando um pouco mais pelos jovens que estão numa fase inicial da sua atividade desportiva (pois creio ser ainda mais alarmante), acredito ser essencial continuar com a sensibilização para os pais destes atletas, para o facto de que o filho ainda é muito jovem, e está sobretudo a autoconhecer-se e perceber que ainda está numa fase de descoberta.

Antes de um jogador, há que perceber que, acima de qualquer coisa, todo o atleta é um ser humano, que experiência emoções, sentimentos e comportamentos. Na minha luta perante este tema, tem sido recorrente a sensibilização e o “mostrar” de como é importante ser pai de um atleta de futebol. MAS SERÁ QUE ISTO CHEGA? O que vamos fazer para parar com pensamentos que determinados pais têm em relação aos seus filhos de forma desajustada? Pensarão que têm uma “barra de ouro em casa” e que os têm de limar consoante a sua visão/opinião? Reforço novamente que ainda estão na fase da descoberta.

PAIS, já pensaram e tentaram perceber junto daqueles que mais amam, ou seja, os vossos filhos, se é do futebol que eles realmente gostam? Será que eles estão felizes no clube onde se encontram a jogar? E vocês, pais, será que não querem mais resultados e sucesso do que os próprios filhos? Acho que é fundamental alinhar o processo refletir: “Quando vou ver o meu filho jogar, será que utilizo mais o boné de pai, ou o boné de pai/treinador?”

No meu ponto de vista, foi deveras interessante o que a Federação Portuguesa de Futebol fez. Contudo, por vezes, questiono-me se isto já não está a ser feito há algum tempo. Será que não tem que haver outras medidas para que o menino jogue o futebol com paixão, prazer e muita alegria sem qualquer tipo de julgamentos, pressões (…)?

Como disse anteriormente, na minha profissão tive algumas formações, principalmente para otimizar o papel dos pais enquanto PAIS de jogadores de futebol. E na minha tese, como alguém muito importante no meu trajeto me ensinou, para além de querermos atletas de grande competição, queremos essencialmente pais de alta competição!

O comportamento continua a ser recorrente. As exigências sobre o filho jogar de forma diferente, por exemplo: “Vai para esquerda”, quando o líder da equipa, sim O TREINADOR, aquele que OS TREINA, diz “direita”. E a quem o atleta vai obedecer quando falamos de meninos de 6/7 anos, por exemplo?

Os pais têm um papel fulcral nas ações e conduta dos seus filhos. É, por isso, imperativo que lhes permitam tomar as suas próprias decisões, com completa autonomia. Muitas das vezes, não é isso que se sucede e deparamo-nos, metaforicamente, com um jogo de futebol de consola, no qual o pai é o comando e tenta jogar à sua maneira. É importante que o pai perceba que existe uma panóplia de fatores que condicionam toda a performance e que o seu filho necessita de ser autónomo e de jogar com prazer!

O comportamento perante os árbitros continua desajustado. Os insultos são constantes, num campo em que ele é o “juiz” e tem que tomar decisões, e para além de tudo, É HUMANO, tal como as pessoas que o criticam.

Questiono ainda, pais de atletas deste país, sendo vós os pilares dos vossos filhos, será que já pensaram que estes podem ter vergonha das vossas ações nas bancadas “nos sábados de manhã”? Será que percebem que eles podem não ter uma motivação intrínseca, e não ir criando essa mesma motivação a longo prazo, pelas vossas exigências e desajustamento de expetativas?

Será que não percebem que se colocarmos numa balança e metermos a pressão de um lado e a motivação do outro, ela pode estar desequilibrada, e isso não é positivo para o rendimento e sobretudo BEM ESTAR do vosso “tesouro”? Daí também o título do texto. Por vezes, deparo-me com atletas que têm medo de errar, têm medo de falhar, de assumir, muito porque sabem que vão ser repreendidos depois. Vai haver exigência depois de uma ação que deveria ser apenas de PRAZER. Daí, por vezes, não haver o risco, as iniciativas, a vontade de querer mostrar diferença, A AUTONOMIA…  tudo o que nos faz apaixonar pelo desporto rei…

Claro que cada caso é um caso, e cada pessoa é uma pessoa. O objetivo é apenas ir lançando umas frases soltas para também o leitor ir refletindo com mais precisão.

Poder-se-ia falar de tanta coisa acerca desta temática. E, como referi no inicio, há um momento inicial referente ao “aprender a gostar” e depois começa-se a formar. Mas o comportamento não poderá ser igual nos dois casos?

As formações, as propagandas do não à violência (…), sim é muito importante. Mas têm havido mudanças significativas?

E quando uma equipa de SUB12 (julgo eu), de Espanha, decidiu parar o jogo e foi de encontro à bancada onde se encontravam os pais dos próprios atletas dessa equipa e se manifestaram, demonstrando a sua insatisfação perante o que os seus “pilares” estavam a fazer? MENINOS DE 10/11/12 ANOSMas que atitude!

Porque não passar da teoria à prática? Porque não existem ações?

Poderia falar muita coisa sobre este assunto, mas essencialmente, e de forma a que haja uma discussão:

SIM, É IMPORTANTE O “DEIXA JOGAR” E A CONTINUAÇÃO DA SENSIBILIZAÇÃO PARA AS BOAS PRÁTICAS, MAS SERÁ QUE NÃO TERÁ QUE EXISTIR MAIS DO QUE ISSO E COMEÇAR A TRABALHAR DE FORMA A PUNIR AS PESSOAS QUE NÃO ESTÃO A DIGNIFICAR O DESPORTO REI, E DE CERTA FORMA, DEIXAR O “MÍUDO JOGAR”?

4 Comentários

  1. Rogério Teixeira
    11 Novembro, 2019
    Responder

    Execelente texto!
    Na distrito de Viseu, por exemplo, há sem dúvida muitas zonas em que o bom comportamento já se começa a notar nos escalões mais baixos, mas noutras, a cultura enraizada ainda não permite esses bons comportamentos. E nota-se mais a partir dos sub12.
    Já presenciei jogos em que a segurança, Policia ou GNR é chamada pelos arbitros para identificação de determinadas pessoas e a partir desse momento o silência começa a abonar nas bancadas. o desconhecimento dessa possibilidade faz com que muitos abusem e se calhar esse seria um passo importante, para que houvesse mais respeito. Há muitos que são “fortes” nas bancadas, mas após uma intervenção dessas o seu comportamento modera bastante.

    • Paulo Guimarães
      12 Novembro, 2019
      Responder

      Boa tarde,
      Estou a ficar “farto” de ver tantos textos sobre o mesmo assunto e continuo com a ideia que os pais têm de ser sempre solução e não um problema.
      O futebol actual é uma indústria aonde o negócio está muito acima da paixão, e isso reflete-se na pustura e atitude de alguns pais e também de clubes.
      Mas nem só alguns pais são o problema, os clubes colocam grande pressão sobre as crianças que deixam de ser crianças no momento que têm de mostrar resultados para não serem excluídos tão precocemente.
      É depois de serem excluídas dos clubes/grupo de amigos, quem é que vai ajudar as crianças a ultrapassar essa frustração… OS PAIS é claro.
      As crianças são só crianças que procuram seguir os passos dos seus idolos, e todas elas têm o direito de fazer parte de um grupo, sem a pressão de serem dispensados e precionados pelos próprios pais.

  2. Cristina
    13 Novembro, 2019
    Responder

    Vai-me desculpar Sr. Rogério.
    Acho que não tem a ver com zonas.
    Tem a ver sim com cada um de nós.
    Isso é generalizar.
    Cada vez se batalha mais neste tema e num momento e numa fase em que eles estão a tentar perceber quem são, o que querem e o que gostam, cabe-nos a nós pais e treinadores, enquanto educadores, dar-lhes o exemplo e batalhar contra este tipo de situações.

  3. José
    19 Novembro, 2019
    Responder

    O problema é que há muita teoria mas depois os teóricos quando treinam e o resultado no jogo não agrada começam a manifestar quão importante é o resultado.
    Enfim… custa muito ver futebol formação.

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