O Futebol sempre foi e é alvo de intermináveis discussões, argumentações e debates. Seja nos jornais, nas salas de conferência, nas faculdades ou na rua com os amigos. Quando se fala de futebol existem vários pontos de vista e diferentes opiniões sobre o mesmo tema. O jogo de Futebol desde a sua criação e profissionalização, tem apresentado uma evolução permanente onde também o treino e o modo de o perspetivar tem vindo a modificar-se ao longo dos anos (Tobar, 2018).

Todavia existe um ponto que tanto treinadores, atletas e jornalistas concordam: o treino tem um papel primordial para a melhoria do desempenho das equipas e dos atletas (Tobar, 2018). No entanto nem todos pensam o “treinar” da mesma forma dependendo muito das experiências e contextos onde as diferentes pessoas estiveram inseridas.

O Futebol e Descartes? Que ligação?

Durante séculos o mundo ocidental tem sido regido e educado sob a luz do paradigma cartesiano, da qual o treino do Futebol não esteve alheio. Este método de pensamento desenvolvido por Descartes consiste em quebrar fenómenos complexos em pedaços a fim de compreender o todo a partir das propriedades das suas partes (Capra, 2006).  Imerso nesta realidade, também existiu no futebol a necessidade de desmontar e fragmentar o jogo (o “todo”) em “partes” (dimensão física, técnica, tática, psicológica e estratégica) treinando cada uma destas partes separadamente. Pois nesta perspetiva acredita-se que o somatório destas vertentes, após o processo de treino, aumentará o desempenho da equipa porque para esta conceção o TODO É CONSTITUÍDO PELA SOMA DAS PARTES (Tobar, 2018).

 

Esta maneira de pensar retrata muitas metodologias convencionais, onde sugerem que se deve começar primeiro pelo aeróbio, depois anaeróbio, primeiro treinar sem bola dando ênfase na melhoria das capacidades condicionais e depois com o decorrer dos trabalhos físicos inserir treinos técnicos e táticos, etc.… (Tobar, 2018). Contudo não podemos esquecer que estas metodologias convencionais de treino, foram criadas e desenvolvidas para desportos individuais com grande tempo de preparação e período competitivo curto (atletismo, ginástica, natação). O Futebol foi sendo influenciado por esses pensamentos metodológicos, decomposto, descontextualizado e desconectado da sua natureza complexa treinando-se dissociado cabeceamento, condução de bola, remate, passe, velocidade, força, etc…

Seguindo a tendência do paradigma cartesiano também o jogo de futebol foi dividido por muitos em fase ofensiva e defensiva (Tobar, 2018). Fase ofensiva a equipa tem a posse de bola e tenta marcar golo. Fase defensiva a equipa não tem a posse da bola e tenta recuperá-la evitando sofrer golo na sua baliza. Esta perspetiva parece afirmar que ataque e defesa têm uma existência independente uma da outra, são estanques. Isto implica que ataque e defesa sejam entendidos e treinados de maneira separada e desconectados um do outro. Muitos treinadores ainda culpam o seu setor defensivo por sofrerem muitos golos, quando sabemos que muitas vezes a maneira como a equipa ataca e uma articulação do setor avançado com o médio desequilibrada pode expor os seus defesas a numerosos contra-ataques, por exemplo.

“Para aqueles que têm só um martelo como ferramenta, todos os problemas parecem pregos”- Mark Twain

Fiquem atentos aos próximos artigos onde aprofundarei cada vez mais esta metodologia que revolucionou o treino do futebol.


Tobar, J. (2018) Periodização Tática. Entender e Aprofundar a metodologia que revolucionou o treino do Futebol.1ºEdição PrimeBooks.

Capra,F.(2006) A Teia Da Vida:Uma nova compreensão Cientifica dos Sistemas Vivos. 10º Reimpressão. Editora Cultrix. São Paulo.

1 Comentário

  1. Pedro Figueira
    13 Fevereiro, 2019
    Responder

    Gosto deste tipo de discussão, aguardo os próximos artigos deste tema 🙂

    Uma pergunta: Será que os momentos de organização ofensiva e defensiva são trabalhados isoladamente? Ou quando nos encontramos numa sessão de treino em que existe um maior foco no trabalho de organização ofensiva (ex: 4×4 em futsal ou 10×10 em futebol), a outra equipa não está “obrigatoriamente” a trabalhar a organização defensiva?

    Conseguimos treinar exclusivamente uma organização? Ou treinamos as duas em simultâneo?

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