Não, não sou árbitro, não pretendo ser e não tenho amigos árbitros. Este desabafo não é mais um que fala desta classe, do seu papel tão importante no desporto. É sim tomar uma atitude como educador e treinador de futebol, de não permitir, a partir da próxima época que o escalão que venha a treinar fale, nos treinos, antes dos jogos ou após os jogos sobre a arbitragem.

Não será fácil conseguir convencer os atletas, depois de tantos jogos que mais de metade da reflexão final é a falar da arbitragem. É precisamente por isto que não o vou permitir. Porque estamos ( treinadores, dirigentes e pais ) a formar atletas que não se focam nos seus erros, nas suas virtudes, mas sim em outros fatores externos que em nada contribuem para o seu crescimento.

A palavra “basta” surge assim após um jogo como treinador do escalão de Sub-11, Benjamins de segundo ano, quando, no final de um jogo ouço vários atletas a comentarem que o árbitro foi o principal culpado do resultado menos conseguido. Praticamente nenhum fazia uma autocrítica ou falava sobre o que o seu colega tinha feito de menos positivo ou até do trabalho do próprio treinador. Sei que nesta idade talvez seja muito cedo para pedir que um atleta tenha esta capacidade. No entanto, no meio de tantas palavras soltas sobre o mesmo assunto (“o árbitro”) existiu uma frase que me fez despertar e me levou a escrever estas linhas.

Fiquei chocado quando ouvi um dos atletas dizer que os todos os árbitros recebem dinheiro das equipas adversárias para favorecerem essa mesma equipa. Como pensei que esse atleta estaria a falar dos jogos e equipas de escalões profissionais, questionei-o se pensava que isso também acontecia nestes jogos de formação com equipas tão modestas como a nossa.

A resposta foi “SIM”. Isto é muito preocupante! É assim que os nossos futuros atletas veem o desporto?

É assim que vão crescer a pensar que todos os outros erram menos eles?

E quem serão os culpados? Certamente quem está a ler pensa de imediato que são os pais. Está na “moda” criticar o comportamento dos pais por quase todas as atitudes que os filhos têm. E serão realmente os pais os principais culpados? Aqueles pais que não percebem nada de futebol, têm filhos a jogar e criticam a arbitragem onde será que aprenderam?

Pois, o meu ponto de vista é que as atitudes dos principais Presidentes dos clubes de futebol profissional estão a influenciar negativamente todos aqueles que gostam de futebol, inclusive miúdos de 10/11 anos em clubes de menor dimensão.

Certamente que este desabafo não chegará à leitura de nenhum deles mas, gostaria que lessem com atenção e percebessem que todas as atitudes que têm, menos próprias, falando tão abertamente nos meios de comunicação social quase diariamente sobre o trabalho dos árbitros, influencia de forma muito negativa todas as pessoas que os ouvem.

Não será grave o suficiente quando já temos atletas desta idade que imitam este tipo de comentários?

Para mim sim! Serei apenas um ou dos poucos que terá esta atitude, mas quero que os meus jogadores aprendam a analisar o jogo por aquilo que a equipa fez, por aquilo que a outra equipa permitiu ou não e principalmente que aprendam a lidar com os seus próprios erros.

Será certamente a primeira linha do regulamento do escalão que for treinar, com letras destacadas:

“Não é permitido a qualquer atleta falar sobre a arbitragem antes ou após um jogo”

Ficam nestas palavras um desabafo de alguém que se preocupa pelo futebol de formação e também pela formação de novos homens.

4 Comentários

  1. Luís Viegas
    9 Maio, 2018
    Responder

    Bom dia, sou árbitro de futebol e li com bastante interesse a sua crónica! Aplaudo esta sua atitude para com os atletas! Não será uma missão fácil, porque cada vez mais as crianças interiorizam o que vêm na TV. Eu próprio já acabei jogos de benjamins e miúdos de oito, nove anos disseram que perderam por causa do árbitro, imagine-se por exemplo porque não marquei uma falta a meio campo! Todos nós erramos e voltaremos a errar, mas como eu costumo dizer a alguns treinadores “ eu não critico as suas substituições, eu não critico o jogador que falhou de baliza aberta”, por isso vamos deixar estás guerrinhas, pelo menos no futebol de formação e focarmo-nos no que os miúdos querem, que é jogar futebol!

    Se todos, ou pelo menos alguns treinadores incluíssem esta regra nas equipas deles, o futebol era muito mais fácil e bonito!

    Um abraço!

  2. Antonio Manuel Santos
    9 Maio, 2018
    Responder

    Concordo com o texto na sua globalidade quero contudo discordar da afirmação seguinte: “mas sim em outros fatores externos que em nada contribuem para o seu crescimento”.
    A arbitragem não é um factor externo ao desenvolvimento do desportista!! No meu entendimento é parte integrante nesse mesmo desenvolvimento, que influencia, que colabora, a arbitragem complementa o trabalho do treinador, não só na interpretação das regras mas também, no comportamento social, educando e orientando o jovem atleta nas boas praticas.

  3. António Silva
    9 Maio, 2018
    Responder

    Eu sou árbitro,li o seu artigo e não concordo com o não falar de arbitragem, pois nós árbitros não fazemos mais do que aplicar as leis que na maior parte das vezes são criticadas por quem não as sabe… Talvez refletir e dar formação aos jogadores até por árbitros pois estes podem explicar a sua visão dos lances…
    Pois o que estraga a arbitragem de hoje é que temos os média que muitas vezes também não sabem do que falam e têm milhares de repetições para ajuizar um lance, o ser humano não é como humano que é o erro também pode estar presente nas suas decisões….
    É a minha opinião…

  4. Joao Mota
    10 Maio, 2018
    Responder

    Caro António Silva,
    O intuito é não falar negativamente da arbitragem.
    Concordo consigo que deve existir essa formação dada pelos próprios árbitros, mas isso tem de partir dos próprios junto dos clubes da sua zona de residência por exemplo.

    Caro António Santos,
    Os fatores externos que refiro são outros que nada têm a ver com o futebol. Claro que um árbitro faz parte integrante do mesmo e deve fazer parte do processo de formação, como referido em cima ao colega António Silva.

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