O Meu Guarda-Redes !!!


O papel do Guarda Redes

O árbitro antes de iniciar o jogo, olha para as duas balizas e confirma junto dos Guarda Redes se estão em condições para que se dê o início da partida. Como as leis do jogo o exigem, o jogo só pode ter início com a presença do GR, até só podem estar 7 jogadores de cada lado, mas um deles tem de ser o Guarda Redes.

Este é muitas vezes o único momento do jogo em que o Guarda Redes acaba por ter a devida importância para os restantes companheiros e agentes do futebol. A partir do apito do árbitro  aquele jogador que se equipa de maneira diferente, que é exceção a algumas regras no jogo, que é o único em campo sem nenhum companheiro ao lado ou atrás, tudo aponta e tudo espera que ele vá ser tanto o vilão da equipa adversária como o herói da sua equipa.

Todos os treinadores, colegas e adeptos, desejam isto do seu Guarda Redes, tenha ele 6 ou 40 anos, mas a questão é “Que ferramentas lhe dei eu durante a semana para que ele tenha sucesso no jogo?”, “ E se ele errar? Vou apoiá-lo ou deitá-lo ainda mais abaixo?”, “Conheço esta posição o suficiente para exigir seja o que for do meu GR?”

Educar o jovem Guarda Redes

O Guarda Redes por norma é o jogador com maior sentido de responsabilidade em campo, mas também o mais corajoso, muitos pensam que por estar naquela posição é o mais fraco psicologicamente, mas é precisamente o contrário, por ser forte é que escolhe estar na posição mais ingrata do futebol, movido pela paixão claro, mas é uma decisão consciente pois só eles sabem o que custa viver dia após dia nesta pressão.

O treinador de um jovem GR tem de perceber isto mesmo, que está perante um jovem com uma maturidade acima da média, com uma capacidade de trabalho enorme e com uma vontade enorme de vencer e melhorar. Porquê ? Porque os GR são assim, trabalham o dobro!

Na verdade, o que o treinador deve promover nos seus Guarda Redes é um ambiente de treino e de competição que permita ao seu atleta potenciar estas capacidades e desenvolver outras igualmente importantes e não permitir que todo o contexto de treino e competição, quer a nível dos exercícios quer a nível do feedback seja um eterno “massacre” e uma constante luta desigual para o seu Guarda Redes.

 Como atingir estes objetivos ?

Se o GR é normalmente um atleta responsável e justo, por que não dar-lhe também a responsabilidade de ser um dos capitães de equipa e assim também valorizar o seu esforço e a sua importância perante o grupo ?

Tu, treinador, sabes aquelas rabias, que  tanto gostas de fazer e muitas vezes participas com os teus jogadores ? O teu GR também gosta de fazer e prefere muito mais participar com a equipa, do que estar sozinho a aquecer na baliza, tentando preparar-se para a parte principal do treino sem a ajuda de qualquer treinador que o oriente para a tarefa. Digo-te mais, se nessas mesmas rabias colocares o teu GR no meio e ele tiver a recuperar as bolas com as técnicas de GR, ensino-te desde já, que ele estará a trabalhar a técnica de 1×1, desarme/ataque á bola, tomada de decisão, equilíbrio e muito mais. Aqui está, como uma simples rabia integrada com GR, pode fazer tanta diferença para o próprio.

Se por outro lado, preferires acompanhar o teu jovem GR no seu aquecimento, deixa-me relembrar-te que o Guarda Redes tal como os outros colegas de equipa, precisa que lhe expliquem as técnicas, o porquê de as fazer e o que ganha em fazer daquela maneira e não de outra. Precisa de ser instruído e tal como um jogador precisa de aprender a fazer passe e receção para conseguir fazer a manutenção da posse de bola em equipa, precisa de aprender a cair, a colocar as mãos e o corpo e a posicionar-se, para ao passar para o jogo, poder também ele defender remates e evitar outros tantos com as suas saídas.

Começa do simples para o complexo, explica-lhe qual deve ser a sua posição base (confortável), como deve ser a pega da bola e o que ele precisa de fazer para ter mais hipóteses de ter mais sucesso em cada ação.

Não sabes explicar isto ao teu GR? Informa-te ou procura quem o saiba, afinal este é o mesmo Guarda Redes que no jogo é gozado porque deixou a bola escapar entre as mãos, é o mesmo GR de 11 anos a quem é pedido que decida sempre bem num pontapé de baliza ou que consiga defender um remate numa trajetória aérea que ainda nem perceção tem para saber em que momento salta quanto mais a força necessária nas pernas para o fazer, este é o mesmo menino que sem ele não podes começar o jogo, mas que ao começar o jogo foi o que menos preparação teve, mas ao qual tu, eu, nós, agentes do futebol tanto exigimos.

É apenas um menino de 11 anos, é Guarda Redes, eu sei, é especial, eu sei, mas por isso mesmo precisa de ser ensinado, moldado, respeitado para que também ele possa crescer tranquilamente, ser feliz e ter gozo e sucesso naquilo que um dia ele decidiu fazer, ajudar-te a ti, treinador a não sofreres golos e assim ajudar-te a vencer mais jogos e acredita não há ninguém em campo que deseje mais não sofrer golos, do que o TEU Guarda Redes.

E tu vais ajudá-lo como ele todo os dias tenta ajudar-te a ti ?

João Santos

Treinador de Guarda Redes Sub 17 Sporting C.P./ Responsável e fundador da Escola de GR João Santos

5 Comentários

  1. Américo Nogueira
    19 Abril, 2016
    Responder

    Muito bom Texto para Reflexão, obrigado pela partilha, ” No Futebol não é o mesmo Treinar que Ensinar, Treinadores há muitos, Ensinadores nem Tantos. Forte abraço

  2. 21 Outubro, 2016
    Responder

    Os meus parabéns por este texto fantástico.
    Muitos GR acabam por desmotivar devido a ignorância de alguns treinadores. A falta de conhecimento, faz com que as suas acções e falta de justiça, desmotivem potenciais GR de futuro.
    Penso que este texto é muito esclarecedor em relação a uma posição tão importante, que tantos ignoram.

  3. Bruno Matos
    11 Fevereiro, 2017
    Responder

    Excelente artigo para todos os treinadores lerem. Por vezes nos GR somos “desprezados” em termos de treino e no jogo pedem-nos para ser perfeitos…
    Um grande abraço a todos os GR, a posição mais bonita que pode haver.
    Como diz o Benedito… 99% de maluquice, 1% de doidice

  4. Daniel Oliveira
    16 Maio, 2017
    Responder

    Adorei…..e pior que tudo é quando querem isso num miudo de 5 anos

  5. Aníbal
    24 Setembro, 2017
    Responder

    A sensatez e o querer podem e devem complementar-se.
    Devemos ensinar com gosto e entusiasmo.
    É meio caminho andado.
    Excelente artigo.
    Ao escrevemos assim um artigo desta importância deixamos o nosso Legado e o Autor fé lo de forma explícita.
    Mais UMA vez os meus parabéns.

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